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Mostrando postagens de agosto, 2015

O Cilindro de Ciro

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Conhecido hoje como o Cilindro de Ciro, este registo antigo foi reconhecido como a primeira carta dos direitos humanos do mundo. Está traduzido nas seis línguas oficiais das Nações Unidas e as suas estipulações são análogas aos quatro primeiros artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Em 539 a.C., os exércitos de Ciro, O Grande, o primeiro rei da antiga Pérsia, conquistaram a cidade da Babilônia. Mas foram as suas ações posteriores que marcaram um avanço muito importante para o Homem. Ele libertou os escravos, declarou que todas as pessoas tinham o direito de escolher a sua própria religião, e estabeleceu a igualdade racial. Estes e outros decretos foram registados num cilindro de argila na língua acádica com a escritura cuneiforme. Com início na Babilônia, a ideia de direitos humanos espalhou-se rapidamente para a Índia, Grécia e por fim chegou a Roma. Ali surgiu o conceito de “lei natural”, na observação do fato de que as pessoas tendiam a seguir certas leis não

A Ideologia do Materialismo e Idealismo

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O termo ideologia foi criado por Destut de Tracy, em 1801, denominando a análise das sensações e das ideias. Uma ideologia política vem a ser um sistema de crenças aceitas como verdades inelutáveis, expressando o clima social e o estado de ânimo próprio de uma sociedade concreta. Trata-se de uma concepção peculiar do mundo e da humanidade e, nesse sentido, fala-se em ideologia burguesa, liberal, totalitária, marxista e tantas mais. Em outras palavras, volta-se muito mais para os que "atendem" que para os que "entendem". Para entendermos a ideologia dialética, que é a arte da discussão, não podemos confundi-la como retórica, já que não pretende impressionar e captar, mas convencer e levar a compreensão. Assim, entendemos o raciocínio que busca a verdade por intermédio da oposição e da conciliação de contradições. Georg Wilhelm Friedrich Hegel define a dialética como a conciliação dos contrários nas coisas e no espírito. O processo dialético, diz ele, consta

Clemência à Calhandra

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A lei do universo é esta: se deseja clemência, seja também clemente. As injustiças dos maus servem muitas vezes de desculpa para nossas más ações. Certa vez, um campônio saiu para caçar passarinhos, atraindo-os com um espelho. O brilho do objeto atraiu uma calhandra. Imediatamente um gavião, que sobrevoava os campos, precipita-se sobre a avezinha, que cantava ao lado da armadilha, sem conceber o perigo que correra, por aproximar-se tanto. Mas de nada lhe valeu a felicidade de ter escapado ao engenho humano, pois tão logo se viu livre daquele perigo caiu nas garras do gavião, sentindo as unhas pontiagudas adentrarem sua carne. Estava o gavião ocupado em depenar a presa e por isso não viu que, num movimento mais amplo, poderia ser colhido pela armadilha da qual há pouco escapara a calhandra. E esse movimento foi feito. — Senhor caçador — disse o prisioneiro no seu estranho linguajar — tende piedade de mim e solte-me . Eu não vos fiz nenhum mal. Contudo, o caçador replicou: —

A diferença entre Demagogia e Oclocracia

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Ressalta-se que na antiga Grécia, o termo demagogia não teve, durante muito tempo, a conotação pejorativa de hoje, que nada mais é do que a arte de conduzir o povo. Para os antigos gregos, o demagogo era aquele que se impunha ao tirano e esclarecia o povo com sabedoria e justiça. Foi com o grande historiador ateniense Tucídides que a demagogia principiou a ter sentido negativo, denominando a atitude daqueles que conduzem o povo lisonjeando seus sentimentos. Na demagogia, os cidadãos mais capazes são relegados ao esquecimento e os aduladores cobram rápida ascensão, cortejando o populacho com leis inexequíveis e uma sórdida campanha de calúnias e difamações contra os verdadeiros magistrados. Moderadamente, é tida pela política por meio da qual os governantes buscam impressionar as massas com falsas promessas, deformação dos fatos e adulações grosseiras. Progressivamente, o comportamento demagogo torna-se uma conduta massificada, condicionada a atitudes políticas e sociais não raci

A História do Ritual do Homem de Ouro

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Em 1492, Colombo atravessou o Atlântico e lançou aos espanhóis à conquista do Novo Mundo. Nos cinquenta anos que se seguiram, os Astecas do México e os Incas do Peru sucumbiram a estes conquistadores ávidos de ouro. Fizeram-se expedições aos Andes da Colômbia na mira de saquear e pilhar os túmulos dos índios e em 1539 os europeus entraram pela primeira vez no território do povo Muisca, e fundaram a cidade de Bogotá. Pelos Muiscas, os espanhóis tiveram pela primeira vez conhecimento de uma cerimônia no misterioso lago Guatavita. Estavam ainda vivos alguns índios que haviam presenciado a última das cerimônias de reconhecimento do rei. O que se segue é a narração feita por uma testemunha ocular e referida por um cronista espanhol em 1636. "No primeiro dia ele foi até o lago Guatavita para oferecer sacrifícios ao demônio que veneravam como seu senhor e deus. Durante a cerimônia, que teve lugar no lago, fizeram uma jangada de junco, decoraram-na e embelezaram-na com tudo o que

Sedna e os Inuítes do Norte

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Sedna é conhecida como a mãe dos animais marinhos. Porém, antes era uma moça como qualquer outra, se transformando em uma deusa que vive no fundo do mar ártico. Conta os Inuítes do Norte a história de que ela não queria se casar. Rejeitava todos os jovens pretendentes de sua aldeia, sempre dedicando seus cuidados aos animais. — Isso vai trazer azar — disseram os jovens rejeitados, que queriam Sedna. Eles a levaram em um barco para o mar e a empurraram para a água. Sedna segurou num dos lados do barco, mas eles cortaram seus dedos. Quando os dedos caíram no mar, eles se transformaram nas primeiras focas e outras criaturas marinhas. Sedna submergiu para o fundo do mar, onde se tornou a rainha do mundo submarino, senhora de todas as coisas vivas. Devido ao cruel sofrimento pelo qual passou, Sedna é rancorosa. Quando alguém a ofende, ela prende todos os animais para que ninguém possa pescar nem caçar. Então um homem corajoso, com poderes de xamã, sacerdote que pode se comunicar c

O Homem é o Lobo do Próprio Homem

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Para Thomas Hobbes, o homem é o lobo do próprio homem devido ao seu desejo de destruição e de seu interesse em manter o domínio sobre seus semelhantes. Nesse sentido, o contrato é o consenso entre indivíduos para que exista uma sociedade controlada pelo poder, estando acima de qualquer um, podendo, desse modo, influenciar nos "instintos do lobo" que existem no ser humano. Para o filósofo, essa é a única maneira de garantir a preservação adequada das pessoas. No entanto, a paz apenas seria possível quando todos os indivíduos renunciassem a liberdade que possuem, possibilitando que a sociedade concentre uma série de direitos - que não podem ser divididos - para garantir a paz, a segurança e a ordem. Segundo Hobbes, a anarquia - estado da natureza, onde entende toda doutrina que adere o poder político como uma organização social perfeitamente dispensável -  seria uma guerra de todos contra todos, tornando a vida humana solitária, pobre, desagradável e curta. O filósofo ent

Barjanes e as Areias Mutantes do Sahara

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Durante a noite ouviram-se estranhos gritos e surgiram furtivas figuras desaparecendo entre as resplandecentes dunas ou seguindo as marcas das caravanas de camelos. Dessas visões nasceram os contos de fantasmas. Os nômades juram que viram esses terríveis demônios devoradores de homens, assinalando como evidência os ossos do deserto e perguntando: "Quem senão os demônios podem deixar limpos uns ossos no deserto?" Provavelmente a resposta é "a areia". E a areia, amontoada pelo vento numa pequena coluna, pode facilmente induzir a confundi-la com um ser sobrenatural. Vastas colinas estendem-se pelo horizonte como um tapete sempre em modificação. Lados lisos, dunas de afilados cumes e todo o conjunto imitando de maneira desconcertante a sucessão das ondas do mar. A interminável procissão das mutantes dunas são, ao mesmo tempo, impressionantes e desorientadoras. Ao olhar a nua mas majestosa terra resultaria difícil apoiar a opinião do novelista argelino Alb