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Mostrando postagens de junho, 2021

Portão de Ferro

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Aquele portão de ferro me trouxe um espectro assombroso de tempos apinhados em lágrimas escorridas por rostos sofridos, calos em mãos que nunca pegaram numa caneta, terços rezados com afinco em noites de desespero, vida vivida no canto de barro e madeira carcomida. A igreja de portas fechadas; da escada, só lembranças de sapatos enlameados pelo percursos. Hoje, um jardim repousa ali. Suave como uma brisa tímida passando rasteira nos calcanhares de quem adentrava aqueles portais com altivez. A igreja não era para todos. Na fazenda havia um rio há muito explorado: de sangue, correndo vivo nas entrelinhas da história. A flores que tiram da terra seus nutrientes sequer sabem o que a mesma terra usou para nutrir-se quando uma mão no arado era mais valiosa do que no lápis. E apesar da severidade do tempo, a pequena igrejinha resistiu com as paredes alvejadas.  No adro, pedras encaixadas expondo manchas da estação. O musgo ressequido tomou conta dos lugares ocupados pelas pranteadoras dos sen

Singela Cascata

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Hoje te contemplei, singela cascata; quase ofuscada em derradeiros rasantes, mas muito apreciada em páginas já esquecidas ou arrancadas de trágicos exemplares. Isso me fez pensar na vida: tuas águas minguantes outrora tão quistas, como puderam transpassar a história para o lado absorto da vivência? E apesar da sombra estampada pelas pedras molhadas, com ares de dias já findados, a pequena e tímida queda ainda compõe uma canção às aves que ali se banham. Tudo bem, cascata acanhada. É trabalho do tempo fazê-la correr por entre os rochedos e encontrar caminho na densa mata fria. Para que se lembrar da história agora? Só te traria tristeza, quando por conseguinte viesse ao reflexo de dias azulados o rubro tom do sangue derramado em suas margens agora tão plácidas. Quantos ali perderam suas vidas, banhando as feridas e enterrando os sonhos? Se eu soubesse a resposta, quem sabe teria tuas feições em meu rosto no instante em que meus olhos cruzaram teu reflexo. E outras cascatas escorreriam r

A Experiência de Escrever Sobre Lugares

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Um lugar é capaz de nos envolver em contrastes de diferentes significados. Seja pelo clima da região; pelas pessoas que lá habitam; pelo meio ambiente ao redor: em florestas, montanhas, oceanos, desertos e qualquer outro pertencente ao nosso grande planeta. Tem também a personalidade, algo importante a ser mencionado, que está dentro do âmbito pessoal do lugar em questão. Este mesmo traz sua personalidade de acordo com a tradição, a cultura e a história. Algo lapidado com o passar do tempo que não se desvenda ao primeiro olhar; é preciso ir além, e semear a sensibilidade para poder enxergar o que há escondido nas entrelinhas. Suponhamos que os lugares se dão como textos. O maior tesouro a ser descoberto é o estilo de escrita do autor, bem como aquilo que ele quis dizer com suas palavras. No caso dos lugares, o autor são seus nativos. Os que lá nasceram e nutriram raízes na terra que delineia o horizonte. Pois bem; nem sempre o que é verbalizado transmite a verdadeira essência. Os lugar