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Mostrando postagens de janeiro, 2018

Muitas Línguas, Uma Língua, de Domício Proença Filho

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Para os amantes da leitura, uma boa história se faz por uma série de fatores que contribuem para um bom aproveitamento nas horas dedicadas e entretidas nos capítulos de um exemplar. Seja pela trama, pelo gênero ou pelo estilo de escrita do autor, o livro responsável por cativar, sempre entorna aspectos importantes e memorados que refletem suas particularidades para fora das páginas, fazendo-nos interpretar suas nuances de acordo com nossa concepção de primor. Acontece que todas essas características só são perceptíveis graças a um atributo quase sempre negligenciado por sua onipresença na narrativa que compõe a premissa da história. Estou falando da língua, ou, melhor dizendo, do idioma que enlaça as perspectivas e forma uma encruzilhada de conhecimento e emoção, cuja perpetuidade se dá justamente por sabermos interpretar o emaranhado de palavras formalizadas em seus ângulos linguísticos.  Desse modo, é possível perceber a importância da língua para a partilha das história

Por Amor aos Lugares, de Rogério Haesbaert

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Assumindo o papel de internacionalista, foi extremamente importante a leitura desse exemplar, uma vez que não vejo os lugares como um destino turístico apenas, mas sim como um coletivo cultural que representa valores e conceitos de determinada região; contribuindo para a diversificação do globo e, consequentemente, para a capacidade de aprender com as diferenças do próximo. É, de fato, uma leitura capaz trazer à mente a importância da diplomacia, da preservação da moralidade de cada canto e do aprofundamento no conceito dos lugares, que se transformam numa fonte de fatores que abrange a nossa visão para além do perceptível, seguindo um caminho sentimental e informativo para com a vivência de povos de diferentes estirpes pelos cantos do planeta, refletindo o retorno que tiveram após anos de influência cultural, seja ela qual for.  E o que contribui para um aproveitamento de qualidade, também, é a capacitação do autor ao abordar o tema com maestria. Rogério Haesbaert é geógra

As Perguntas, de Antônio Xerxenesky

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Fico muito satisfeito quando vejo um gênero literário pouco desenvolvido no Brasil se expandir e propagar essa arte empática a novos leitores cujo interesse às obras de ficção despertam o apreço pelo simples, porém almejante, ato de virar uma página. O livro "As Perguntas", de Antônio Xerxenesky, trouxe uma extravagância ao acervo nacional quando propôs mesclar coisas corriqueiras que acontecem diariamente numa grande metrópole, com incógnitas sombrias que instigam o avanço dos capítulos e formam, a cada parágrafo, perguntas na mente dos afortunados leitores. Essa primazia do título em relação a obra se faz presente ao longo de todo o exemplar que se desenvolve junto à singularidade da escrita do autor. Sim, afinal o mesmo nos apresentou a obra pela sinopse como um romance policial, onde a protagonista é convidada a resolver um caso com a polícia. Mas à medida em que vamos nos aprofundando no enredo, percebemos que trata-se de uma trama introspectiva pela qual a per

Sussurros do País das Maravilhas, de A. G. Howard

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A fantasia, de fato, é um universo paralelo criado por mentes brilhantes cujo ofício concentra-se em fazer dos leitores, verdadeiros viajantes desse emaranhado de ideias insanas. Não é segredo o meu apreço pela ficção que transborda suas possibilidades para além daquilo que é cabível no mundo real, permitindo experiências singulares e devaneios que só os desbravadores dessas páginas conhecem. E digo isso pois compartilho da mesma ideia da autora  A. G. Howard que, logo na sua apresentação, afirma querer inspirar mais leitores a se interessarem pelas histórias que ela aprendeu a amar na infância. Assim, Sussurros do País das Maravilhas nada mais é do que um intrigante e psicodélico tributo a Lewis Carroll, um dos pioneiros a dar asas a sua imaginação, levando-a ao espantoso, porém estonteante, País das Maravilhas.  Infelizmente não tive a oportunidade de ler os dois primeiros volumes dessa série e, talvez, por conta disso, não tenha captado alguns pontos necessários para a

Platão no Googleplex, de Rebecca Newberger Goldstein

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Ao longo de inúmeras análises que fiz nos últimos tempos, sempre frisei o fato de gostar das obras capazes de unir extremos, tal como um romance que une ficção e realidade. A questão principal dessa vez não está nas páginas de um enredo corrido ou numa narrativa com princípio, meio e fim, mas sim em um exemplar filosófico capaz de mesclar pensamentos antigos e contemporâneos no mesmo contexto, cujo personagem principal é ninguém menos que o ateniense do período clássico da Grécia Antiga: Platão. E isso reflete a genialidade da autora, Rebecca N. Goldstein, Ph.D. em filosofia, que escolheu justamente o filósofo que não criava tratados, ensaios ou questões que propõem posicionamentos, mas, ao invés disso, diálogos — que convenhamos não ser apenas trabalhos acadêmicos, mas também uma atividade literária extremamente importante para o desenvolvimento da mãe das ciências —, usando toda sua sabedoria tal como um artista que cria suas obras, o que faz dele o protagonista ideal

A História da Tinta de Escrever

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Por ser algo fundamental que serviu para propagar a escrita no decorrer das eras e, consequentemente, a literatura, é muito bom sabermos como se deu a evolução da tinta que marca o papel, possibilitando a nossa entrada no fantástico universo dos livros. Pelo nome da tinta de escrever (em grego, énkaiston ), indicam-se os preparados que servem para escrever, para a imprensa e para vários fins industriais. As primeiríssimas tintas, naturalmente para escrever, foram idealizadas e compostas desde a mais remota antiguidade. Realmente, é ao chinês Tien-Chu, que viveu ao tempo do império de Huan Ti (terceiro milênio a.C.), que se atribui a invenção da chamada tinta da China.  Todas as primeiras referências sobre tal invenção falam do Velho Continente mas, de outro lado, também é digna de credito a documentação de Filon de Bizâncio (século II a.C.), que nos descreve uma tinta "simpática", precursora da tinta ferro-gálica, ainda em uso. Plínio refere-nos que os Romanos usavam

Filha da Profecia, de Juliet Marillier

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Mais uma vez, tive a oportunidade de ler um exemplar que mescla ficção com realidade, proporcionando uma rica experiência dos sentidos e emoções àqueles que viram suas páginas. De um lado, temos a historicidade da obra, fruto de um estudo aprofundado da autora Juliet Marillier, enquanto do outro, a magia que reflete todo o misticismo de tempos antigos, regados pelo mistério que circunda um fantástico universo de segredos e aventuras. Filha da Profecia é o terceiro volume da trilogia Sevenwaters, cujo enredo me atraiu desde o início. Algo como um convite para viajar sobre as linhas do tempo imaginário, observando um horizonte há muito esquecido e experienciando peripécias dos personagens marcantes junto ao seu amadurecimento com o passar dos anos. Trata-se de uma verdadeira história que nos conecta com a criatividade, germinando instintos artísticos no intimo de cada um, para que possamos perceber o toque emocional em meio ao turbilhão de acontecimentos da narrativa. Não é ape

Ninguém Nasce Herói, de Eric Novello

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A obra escrita por Eric Novello já chama atenção por seu título um tanto quanto reflexivo, dando margem às elucubrações da capacitação de indivíduos desprovidos de oportunidades. Sim, afinal, ao se analisar a afirmativa, podemos perceber que ninguém nasce predisposto ou capaz de realizar os seus objetivos, fazendo disso algo inerente às experiências vividas com o passar do tempo. Todavia, não se deve confundir a maestria do título em relação ao conteúdo da obra, com a sentença de que todos nascem iguais, pois isso não é verdade. E o autor, em meio a sua narrativa, se aprofundará nesse juízo, proporcionando aos leitores uma experiência fantástica com sua crítica social e política dentro da literatura ficcional brasileira. Pode-se dizer que o livro reflete os matizes da falta de liberdade e empatia para com o próximo. Num cenário censurado pelo egocentrismo, o autor transforma sua visão de um país corrompido por seus próprios anseios enfadonhos, em palavras no papel, realçan

Não Me Abandone Jamais, de Kazuo Ishiguro

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Em 2017, o autor Kazuo Ishiguro foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura por descobrir em seus romances de grande força emocional, o abismo sob o nosso ilusório senso de conexão com o mundo. Nascido no Japão, mudou-se para a Inglaterra aos cinco anos de idade e se tornou um dos mais célebres autores de ficção da língua inglesa, sendo contemplado com diversos outros prêmios por suas obras. Não Me Abandone Jamais talvez seja o livro de maior destaque de Ishiguro por ter sido considerado pela Time Magazine em 2010 como o romance da década. Segundo o autor, ter a oportunidade de crescer em solo inglês, mantendo suas raízes orientais, foi crucial para sua forma de escrever, já que contribuiu para o desenvolvimento de uma visão diferenciada; uma perspectiva que muitos de seus pares britânicos não tinham. Assim, ter a oportunidade de falar sobre um de seus livros é uma honra para mim, que assumo o papel de resenhista e leitor na mesma pessoa. O itinerário de sua narrativa nos

O Corvo que Quis Imitar a Águia

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Dentre os clássicos contos antigos, existe um que nos faz refletir sobre a realidade diante das condições que nos são dadas. A soberana águia que subia levando um carneiro aos ares, preso em suas garras, causava desconforto ao corvo que queria imitá-la. O animal que assistia todo o espetáculo, tão voraz quanto a grande ave, embora com capacidade reduzida, fora assaltado pelo desejo que fazer o mesmo. Pôs-se a revoar sobre o rebanho que pastava, procurando o carneiro mais gordo para pô-lo em sacrifício, já que era considerado o verdadeiro acepipe dos deuses. Animado com seu projeto, conjeturava:  "Não sei quem o criou, porém sei que está mesmo em tempo de ser transformado em alimento, e logo eu o terei em minhas garras." E com esses pensamentos, precipitou-se em um vertiginoso mergulho sobre o indefeso animal. Agarrou-o firme, mas — ó, surpresa! — a coragem do corvo era bem mais de vulto que sua força. Pensava o animal que um queijo não pesava tanto quanto a desejad