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Mostrando postagens de 2015

Woo Sing e o Espelho

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Existe uma lenda chinesa, recontada por Mary H. Davis, onde ela fala sobre o pai de Woo Sing chegando em casa com um espelho trazido da cidade grande. Woo Sing nunca vira um espelho na vida. Dependuraram-no na sala enquanto ele estava brincando lá fora; quando voltou, não compreendeu o que era aquilo, pensando estar na presença de outro menino.  Ficou muito alegre, achando que o menino viera brincar com ele. Ele falou muito amigavelmente com o desconhecido, mas não teve resposta. Riu e acenou para o menino no vidro, que fazia a mesma coisa, exatamente da mesma maneira. Então, Woo Sing pensou: "Vou chegar mais perto. Pode ser que ele não esteja me escutando." Mas quando começou a andar, o outro menino logo o imitou. Woo Sing estacou e ficou pensando nesse estranho comportamento. E disse para si mesmo: "Esse menino está zombando de mim; faz tudo o que eu faço!" E quanto mais pensava, mais zangado ficava. E logo reparou que o menino estava zangado

O Velho e as Árvores

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Um velho plantava árvores quando pelo local passaram três mancebos. — Plantar com essa idade ainda se compreende. Mas plantar árvores!... Não há dúvida, esse velho caduca. Diga-nos: qual será o futuro desse trabalho? Para colhê-lo, terá que viver mais que um patriarca. Para que se cansa por um futuro que não poderá usufruir? Esqueça seus antigos pecados, renuncie às esperanças remotas e às empresas ambiciosas, o que só a nós interessa — dizem os rapazes. — Também nada é para vocês — retrucou o velho. Tudo que projetamos demora a concretizar-se e pouco dura. O tempo domina tanto sobre meus dias quanto sobre os seus. Qual de nós, diga-me, verá por último a luz do dia? A meus bisnetos e tetranetos é que lego a sombra dessas árvores. Acaso impedirão aos homens honrados do futuro de se aproveitarem do esforço alheio? Só a satisfação de saber que meus descendentes comerão dos frutos destas árvores já é, para mim, feliz colheita, que faço hoje, amanhã, e mais alguns dias, até, pois é

O Caminho e a Arte Japonesa

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No Japão, o dojô é muito mais que uma instalação de treinamento para praticantes de artes marciais. Um dojô é qualquer instalação formal de treinamento, onde os membros aprendem e praticam atividades físicas e formas de arte, especificamente as formas "do". O sufixo "do" significa o caminho de, e geralmente indica que a técnica em questão tem um elemento espiritual. Desde a era Meiji (1868 a 1912), os praticantes das artes marciais japonesas adotaram esse sufixo para os nomes das artes marciais, como Aikidô, Judô e Kendô. Na cultura japonesa, o dojô é uma estrutura simbolicamente importante. O treinamento prático é usualmente conduzido fora do edifício, ao passo que o interior é usado para atividades mais ritualísticas e como um mostruário de artefatos e armas associados ao dojô e seus membros. O dojô é cuidado e mantido pelos estudantes que, no final de cada sessão de treinamento, realizam um ritual "souji" ou limpeza. A importância desse posto per

A Constelação dos Deuses

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Os antigos gregos, seja pelo idioma, costumes ou religião, certamente sentiam-se diferentes dos outros povos por eles conhecidos. Tanto assim, que dividiam a humanidade em helenos — habitantes da Hélade, região central da Grécia — e bárbaros — todos os que não falavam grego. Mas a essência do helenismo não foi geográfica ou linguística, e sim social e cultural. Foi uma forma de vida característica, corporificada numa instituição básica: a polis ou cidade-estado. Costumavam dizer: "Os bárbaros são escravos; nós, helenos, somos homens livres". Essa liberdade não significava apenas a consciência nacional, o governo de si próprio, o respeito à lei e à justiça. Era toda uma concepção do universo, perfeitamente resumida na frase do filósofo Protágoras: " O homem é a medida de todas as coisas". Esse culto do homem praticamente se confunde com o culto de seus modelos ideais, os deuses. O supremo Zeus observa os movimentos do mundo, atende às necessidades das pessoa

Uma Breve História da América Latina

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A América Latina não é um espaço geográfico ou continente, mas sim uma expressão usada para fazer referência aos países e dependências da América que foram colonizados por países latinos, ou seja, Portugal, Espanha e França. Portanto, são países e dependências que têm como línguas oficiais o português, o espanhol e o francês. Grande parte dos países da América Latina foram colonizados e explorados, a partir do século XVI, por Portugal e Espanha. Portugueses e espanhóis exploraram as riquezas minerais e naturais desses países, enviando-as para a Europa. A agricultura foi uma das bases da economia no período colonial. Ela se caracterizou, principalmente, pelo latifúndio e monocultura. No processo de colonização, os espanhóis e portugueses usaram mão de obra escrava de origem africana em quase todas as colônias. As terras dos índios foram tomadas a força e a cultura europeia imposta aos nativos. Durante toda fase colonial ocorreram várias rebeliões e movimentos emancipacionistas,

A última luta do Coliseu de Roma

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Esse texto foi adaptado da versão contada por Charlotte Yonge. O maior e mais famoso anfiteatro da antiguidade é o Coliseu, construído por Vespasiano e seu filho Tito num vale cercado pelas setes colinas de Roma. As paredes são tão sólidas e erguidas com técnica tão admirável que ainda hoje, após tantos séculos, é um dos mais belos monumentos de Roma. As arquibancadas que circundam a arena oval tinham capacidade para cinquenta mil espectadores. Ali os romanos assistiam ao esporte, que se iniciava com um gesto do Imperador. Ás vezes o espetáculo começava com um elefante dançarino, ou com um leão portando uma coroa cravejada de pedras preciosas presas á cabeça, um colar de diamantes ao pescoço, a juba banhada em ouro e as patas douradas, fazendo cabriolas com uma pequena lebre a dançar sem temor entre suas garras. Às vezes enchiam a arena de água e um barco soltava toda espécie de animais, que saíam nadando em todas as direções. Ás vezes o chão se abria e surgiam árvores, como po

O Recanto dos Oradores

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O recanto dos oradores, em Londres, situa-se em uma das esquinas do Hyde Park. Lá existe a teoria de que qualquer pessoa pode expressar sua opinião sem riscos de ser executado. Esse direito foi estabelecido em 1872, quando Hyde Park era um ponto de encontro popular para movimentos políticos radicais na época da Rainha Vitória. Em 1866, a polícia bloqueou a entrada do parque, gerando protesto e manifestação. Assim, a lei de 1872 foi o resultado disso. A melhor estação de metrô para o Hyde Park é a Marble Arch, que fica no final da Oxford Street, que no passado era conhecida como Tyburn Road, onde ficavam as forcas de execução dos rebeldes. Multidões podiam assistir de perto a morte de vítimas, e ouvir suas últimas palavras. Isso contribuiu, de forma significativa, para o desenvolvimento do que conhecemos hoje como "liberdade de expressão". Ao longo dos anos, vários nomes passaram pelo recanto dos oradores, dentre eles podemos citar Karl Marx, Lenin, George Orwell e o

A galinha realmente atravessou a rua?

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No passado, galinhas não eram mantidas em fazendas de produção intensiva como são hoje em dia. Há 150 anos, galinhas eram animais domésticos comestíveis, capazes de fornecer ovos e carne em ocasiões especiais. Por essa razão, era, sem sombra de dúvidas, comum pessoas presenciarem galinhas atravessando de um lado para o outro as ruas, procurando comida ou abrigo. Sendo assim, houve um momento que um inglês, querendo fazer uma piada, perguntou o porquê da galinha atravessar a rua, e nesse dia, nasceu na Inglaterra, uma das mais famosas piadas de todo o mundo. Mas não é esse realmente o significado da piada. A primeira explicação é que se trata de uma piada anticlímax. Aquele que conta, indicado pela expectativa e expressão facial de quem está contando uma piada, se torna engraçado, mas quando vem a resposta, é simples e direta. A segunda possibilidade, diz que a piada é um jogo de palavras. Há dois significados na resposta "para chegar do outro lado". O mais obvio, sig

O Misticismo e Romantismo de Yeats

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Alguns lembram dele como um místico e romancista, outros como dramatúrgico e escritor de ficção, mas todos o reconhece como um poeta. Willian Butler Yeats nasceu perto de Dublim, Irlanda, em 13 de junho de 1865. Seu 150º  aniversário tem sido celebrado em toda a Irlanda ao longo do ano com festivais e eventos culturais. Porém, mesmo tendo nascido em território irlandês, W. B. Yeats passou a maior parte da sua infância em Londres. Aos feriados costumava ir a County Sligo, atravessando o mar que divide a Inglaterra da Irlanda, onde a família de sua mãe morava e onde se tornara a região preferida do poeta, por haver beleza de uma forma antiga e selvagem. Yeats veio de uma família artística, seu pai, John, desistiu da carreira de advogado para se tornar um artista, seu irmão Jeck se tornara também um pintor de grande sucesso, enquanto suas duas irmãs faziam parte do movimento de arte e artesanato. W. B. Yeats decidiu se tornar um poeta ainda muito novo e dedicou sua vida a escre

Peiwoh e a Harpa de Lung

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Muito aflito, o imperador da China andava em círculos pelo palácio. Peiwoh tardava a chegar. Talvez nem soubesse que era esperado com tanta ansiedade. Todos os outros músicos do reino haviam fracassado. Só conseguiram extrair da harpa de Lung notas ásperas e desafinadas. Ninguém pudera arrancar uma única melodia de suas cordas. Essa harpa tinha sido uma esplêndida árvore. Na floresta de Lung, ela sabia levantar a cabeça para conversar com as estrelas. Suas raízes penetravam fundo na terra, misturando-se com o dragão prateado que ali dormia. E aconteceu, certa noite, que um feiticeiro transformou a árvore numa harpa teimosa. Finalmente veio Peiwoh, apresentou-se ao soberano e logo acariciou a harpa, como se procurasse domar um coração selvagem. Tangeu com doçura suas cordas. Cantou a natureza, as estações, as montanhas, os rios. Então, uma a uma, todas as lembranças da árvore-harpa acordaram. A primavera de novo brincou entre seus ramos. Outra vez se ouviram as vozes sonhadoras

A Preciosa Arte dos Cálices de Flores

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A história começa nos albores do mundo, quando a Terra começava a dar vida às criaturas vegetais feitas de água, de vento, de sol e de poeira das rochas. Aconteceu, então, que no misterioso trabalho de transformação orgânica que se realizava no seio daquela natureza selvagem, o acre odor de terra recém-saída do caos e aquele dos vapores que perambulavam pelo espaço, as exalações dos vulcões e das águas em fermentação, se transmudassem, aqui e acolá, em hálitos leves e tênues, brotados dos cálices e de empolas carnosas: as flores. Não se parece isso o começo de um maravilhoso romance? No segundo capítulo dessa história, o homem já fez seu aparecimento sobre a terra. Esta criatura surpreendente, obedecendo aos próprios instintos de conservação, limita-se, a princípio, a procurar nos três reinos da natureza o desejo  de satisfazer os seus sentidos mais requintados: a vista e o olfato. Respirando aquela zona de ar mágico que circunda as belas flores multicores, o homem sente nas

Os Dois Hóspedes de Humberto de Campos

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Entre os muitos hotéis da cidade, aquele era o mais aristocrático. Situado em um dos pontos mais altos, era ali que se hospedavam os viajantes mais ricos e respeitáveis, alguns dos quais acabavam fixando residência no edifício. A Bondade, a Ternura, o Ódio, a Saudade, moravam nele. Jovem e sadia, a Alegria ocupava uma torre esguia e clara que o Sol fazia faixar, logo que amanhecia. A Tristeza, sempre vestida de negro, vivia num quarto sem luz, que apenas os morcegos visitavam. A Hipocrisia habitava um subterrâneo, e a Mentira, um compartimento estreito, cercado de portas falsas, que lhe facilitavam a fuga à simples aproximação da Verdade. Era nesse edifício que morava, chamando a atenção de todos, um cavalheiro que, às vezes, se mostrava doce, polido, gentil, tolerante, e outras, irritado, hostil, intransigente, e, não raro, malcriado. Era vizinho do Ciúme e, sob o menor pretexto, alternava com ele, que era, em geral, secundado pela Dúvida, cujos aposentos ficavam juntos e tinha

O Segredo de Cura dos Índios

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Há uma lenda dos índios iroqueses que conta a história de um grupo de índios que ia andando por uma trilha que levava a uma aldeia, quando de repente, um coelho saltou de uma moita e parou na frente deles. Os índios pararam e observaram o animal que se sentou no meio da trilha e ali ficou imóvel. Atiraram flechas no coelho e as mesmas saíram sem manchas de sangue ao atravessarem o animal. Puxaram o arco para atirar mais flechas, mas o coelho tinha desaparecido. Em seu lugar havia um homem, parado no meio da trilha. Parecia muito fraco e doente. O velho pediu comida e abrigo. Os índios não deram atenção e continuaram seu caminho. Assim, o velho seguiu atrás deles, a passo lento, até chegar às tendas da aldeia. Em frente à cada tenda, havia um mastro com uma pele de animal estendida, que era o símbolo do clã que ali morava. O velho parou em frente à tenda com pele de lobo e pediu para entrar, mas não deixaram: “Não queremos nenhum enfermo aqui” , disseram. Seguiu para outra tend

Dunmore e o Rei das Frutas

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A Escócia pode ser o último lugar que esperamos encontrar um abacaxi. Isso porque o abacaxi é uma fruta originária da América Tropical, sendo descoberta por europeus apenas quando Cristóvão Colombo fez uma passagem pelas ilhas de Guadalupe, no Caribe. Depois, a fruta se tornou símbolo de poder, sendo chamada até mesmo de "Rei das Frutas" e fazendo parte de pinturas e obras de arte. Sendo assim, Lord Dunmore, último governador do estado da Virginia, quando a America ainda era uma colônia da Inglaterra, resolveu construir em 1777, o que nos dias de hoje é conhecido como o mais louco imóvel escocês, uma residência de 14 metros de altura em forma de abacaxi, podendo  demostrar todo seu poder e riqueza de uma forma peculiar aos olhos de seus visitantes que não faziam ideia da existência da fruta. Quando Lord Dunmore voltou para Escócia, os marinheiros de sua frota teriam fincado um abacaxi no poste base do porto para proclamarem seu retorno do oceano. Além disso, Lord D

Uma Resposta Lacônica

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Esta famosa historieta sobre a coragem espartana data da época de Felipe da Macedônia (382-336 a.C.), que forçou a unificação da maioria das cidades e territórios gregos. Nos primeiros tempos, os povos da Grécia não eram unidos como hoje. Havia uma série de cidades e territórios, cada qual com seu próprio governante. Felipe, rei da Macedônia, ao norte da Grécia, queria unir todos os povos gregos sob seu domínio. Armou então um poderoso exército e partiu para a conquista dos outros territórios, onde se fez aclamar rei. Esparta, porém, resistiu. Os espartanos ocupavam a região sul da Grécia chamada Lacônia, por isso eram também chamados lacões. Destacavam-se pelos costumes simples e pela bravura. Eram também famosos por usar poucas palavras, cuidadosamente escolhidas: ainda hoje se diz que as respostas curtas são “lacônicas”. Sabendo que precisava subjugar Esparta para ter o domínio total sobre a Grécia, Felipe cercou as fronteiras da Lacônia e enviou uma mensagem aos espartan

Oitocentos Anos de Magna Charta Libertatum

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A Carta Magna foi possivelmente a influência inicial mais significativa no amplo processo histórico que conduziu à regra de direitos fundamentais. Trata-se de um dos marcos do início da derrocada do regime feudal, pois limitou o poder do monarca absolutista. Em 1215, depois do Rei João da Inglaterra ter violado um número de leis antigas e costumes pelos quais a Inglaterra tinha sido governada, os seus súbditos forçaram-no a assinar a Carta Magna, consistindo em um documento que não apresentava natureza constitucional para todos, sendo apenas um pacto elaborado para proteger os privilégios dos chamados "homens livres" que compunham a classe dominante da época. Porém, mais tarde, veio a ser considerada como direitos humanos, onde dava à igreja liberdade para que não sofresse interferência do governo, também o direito de todos os cidadãos livres possuírem e herdarem propriedade e serem protegidos de impostos excessivos. Isto estabeleceu o direito das viúvas que possuía

O Cilindro de Ciro

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Conhecido hoje como o Cilindro de Ciro, este registo antigo foi reconhecido como a primeira carta dos direitos humanos do mundo. Está traduzido nas seis línguas oficiais das Nações Unidas e as suas estipulações são análogas aos quatro primeiros artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Em 539 a.C., os exércitos de Ciro, O Grande, o primeiro rei da antiga Pérsia, conquistaram a cidade da Babilônia. Mas foram as suas ações posteriores que marcaram um avanço muito importante para o Homem. Ele libertou os escravos, declarou que todas as pessoas tinham o direito de escolher a sua própria religião, e estabeleceu a igualdade racial. Estes e outros decretos foram registados num cilindro de argila na língua acádica com a escritura cuneiforme. Com início na Babilônia, a ideia de direitos humanos espalhou-se rapidamente para a Índia, Grécia e por fim chegou a Roma. Ali surgiu o conceito de “lei natural”, na observação do fato de que as pessoas tendiam a seguir certas leis não

A Ideologia do Materialismo e Idealismo

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O termo ideologia foi criado por Destut de Tracy, em 1801, denominando a análise das sensações e das ideias. Uma ideologia política vem a ser um sistema de crenças aceitas como verdades inelutáveis, expressando o clima social e o estado de ânimo próprio de uma sociedade concreta. Trata-se de uma concepção peculiar do mundo e da humanidade e, nesse sentido, fala-se em ideologia burguesa, liberal, totalitária, marxista e tantas mais. Em outras palavras, volta-se muito mais para os que "atendem" que para os que "entendem". Para entendermos a ideologia dialética, que é a arte da discussão, não podemos confundi-la como retórica, já que não pretende impressionar e captar, mas convencer e levar a compreensão. Assim, entendemos o raciocínio que busca a verdade por intermédio da oposição e da conciliação de contradições. Georg Wilhelm Friedrich Hegel define a dialética como a conciliação dos contrários nas coisas e no espírito. O processo dialético, diz ele, consta

Clemência à Calhandra

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A lei do universo é esta: se deseja clemência, seja também clemente. As injustiças dos maus servem muitas vezes de desculpa para nossas más ações. Certa vez, um campônio saiu para caçar passarinhos, atraindo-os com um espelho. O brilho do objeto atraiu uma calhandra. Imediatamente um gavião, que sobrevoava os campos, precipita-se sobre a avezinha, que cantava ao lado da armadilha, sem conceber o perigo que correra, por aproximar-se tanto. Mas de nada lhe valeu a felicidade de ter escapado ao engenho humano, pois tão logo se viu livre daquele perigo caiu nas garras do gavião, sentindo as unhas pontiagudas adentrarem sua carne. Estava o gavião ocupado em depenar a presa e por isso não viu que, num movimento mais amplo, poderia ser colhido pela armadilha da qual há pouco escapara a calhandra. E esse movimento foi feito. — Senhor caçador — disse o prisioneiro no seu estranho linguajar — tende piedade de mim e solte-me . Eu não vos fiz nenhum mal. Contudo, o caçador replicou: —

A diferença entre Demagogia e Oclocracia

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Ressalta-se que na antiga Grécia, o termo demagogia não teve, durante muito tempo, a conotação pejorativa de hoje, que nada mais é do que a arte de conduzir o povo. Para os antigos gregos, o demagogo era aquele que se impunha ao tirano e esclarecia o povo com sabedoria e justiça. Foi com o grande historiador ateniense Tucídides que a demagogia principiou a ter sentido negativo, denominando a atitude daqueles que conduzem o povo lisonjeando seus sentimentos. Na demagogia, os cidadãos mais capazes são relegados ao esquecimento e os aduladores cobram rápida ascensão, cortejando o populacho com leis inexequíveis e uma sórdida campanha de calúnias e difamações contra os verdadeiros magistrados. Moderadamente, é tida pela política por meio da qual os governantes buscam impressionar as massas com falsas promessas, deformação dos fatos e adulações grosseiras. Progressivamente, o comportamento demagogo torna-se uma conduta massificada, condicionada a atitudes políticas e sociais não raci

A História do Ritual do Homem de Ouro

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Em 1492, Colombo atravessou o Atlântico e lançou aos espanhóis à conquista do Novo Mundo. Nos cinquenta anos que se seguiram, os Astecas do México e os Incas do Peru sucumbiram a estes conquistadores ávidos de ouro. Fizeram-se expedições aos Andes da Colômbia na mira de saquear e pilhar os túmulos dos índios e em 1539 os europeus entraram pela primeira vez no território do povo Muisca, e fundaram a cidade de Bogotá. Pelos Muiscas, os espanhóis tiveram pela primeira vez conhecimento de uma cerimônia no misterioso lago Guatavita. Estavam ainda vivos alguns índios que haviam presenciado a última das cerimônias de reconhecimento do rei. O que se segue é a narração feita por uma testemunha ocular e referida por um cronista espanhol em 1636. "No primeiro dia ele foi até o lago Guatavita para oferecer sacrifícios ao demônio que veneravam como seu senhor e deus. Durante a cerimônia, que teve lugar no lago, fizeram uma jangada de junco, decoraram-na e embelezaram-na com tudo o que

Sedna e os Inuítes do Norte

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Sedna é conhecida como a mãe dos animais marinhos. Porém, antes era uma moça como qualquer outra, se transformando em uma deusa que vive no fundo do mar ártico. Conta os Inuítes do Norte a história de que ela não queria se casar. Rejeitava todos os jovens pretendentes de sua aldeia, sempre dedicando seus cuidados aos animais. — Isso vai trazer azar — disseram os jovens rejeitados, que queriam Sedna. Eles a levaram em um barco para o mar e a empurraram para a água. Sedna segurou num dos lados do barco, mas eles cortaram seus dedos. Quando os dedos caíram no mar, eles se transformaram nas primeiras focas e outras criaturas marinhas. Sedna submergiu para o fundo do mar, onde se tornou a rainha do mundo submarino, senhora de todas as coisas vivas. Devido ao cruel sofrimento pelo qual passou, Sedna é rancorosa. Quando alguém a ofende, ela prende todos os animais para que ninguém possa pescar nem caçar. Então um homem corajoso, com poderes de xamã, sacerdote que pode se comunicar c

O Homem é o Lobo do Próprio Homem

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Para Thomas Hobbes, o homem é o lobo do próprio homem devido ao seu desejo de destruição e de seu interesse em manter o domínio sobre seus semelhantes. Nesse sentido, o contrato é o consenso entre indivíduos para que exista uma sociedade controlada pelo poder, estando acima de qualquer um, podendo, desse modo, influenciar nos "instintos do lobo" que existem no ser humano. Para o filósofo, essa é a única maneira de garantir a preservação adequada das pessoas. No entanto, a paz apenas seria possível quando todos os indivíduos renunciassem a liberdade que possuem, possibilitando que a sociedade concentre uma série de direitos - que não podem ser divididos - para garantir a paz, a segurança e a ordem. Segundo Hobbes, a anarquia - estado da natureza, onde entende toda doutrina que adere o poder político como uma organização social perfeitamente dispensável -  seria uma guerra de todos contra todos, tornando a vida humana solitária, pobre, desagradável e curta. O filósofo ent

Barjanes e as Areias Mutantes do Sahara

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Durante a noite ouviram-se estranhos gritos e surgiram furtivas figuras desaparecendo entre as resplandecentes dunas ou seguindo as marcas das caravanas de camelos. Dessas visões nasceram os contos de fantasmas. Os nômades juram que viram esses terríveis demônios devoradores de homens, assinalando como evidência os ossos do deserto e perguntando: "Quem senão os demônios podem deixar limpos uns ossos no deserto?" Provavelmente a resposta é "a areia". E a areia, amontoada pelo vento numa pequena coluna, pode facilmente induzir a confundi-la com um ser sobrenatural. Vastas colinas estendem-se pelo horizonte como um tapete sempre em modificação. Lados lisos, dunas de afilados cumes e todo o conjunto imitando de maneira desconcertante a sucessão das ondas do mar. A interminável procissão das mutantes dunas são, ao mesmo tempo, impressionantes e desorientadoras. Ao olhar a nua mas majestosa terra resultaria difícil apoiar a opinião do novelista argelino Alb

A Tartaruga Voadora

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Como diziam os antigos, jamais se pode dar um passo maior do que as pernas, ou colocar o chapéu onde a mão não alcança. Ao se desprezar tais conselhos, a imprudência faz morada. É preciso muito equilíbrio em nossas ações, se quisermos lograr êxito. Havia uma tartaruga que tinha uma particularidade. Ao contrário de todas as o utras suas irmãs, não era morosa nos movimentos e caminhava até com alguma rapidez. Um dia, cansada de ficar morando sempre no mesmo local, resolveu sair pelo mundo. Conhecer novas terras é desejo generalizado e o interessante é que os mais coxos são os que menos gostam de ficar no mesmo lugar. Embora tendo a particularidade de ser um pouco mais ligeira que suas companheiras, nossa tartaruga estava longe de ter condições de sair mundo afora. Por isso, contou seu desejo a dois patos, que logo se puseram às suas ordens para auxiliá-la. — Vês como é livre o caminho aéreo pelo qual seguimos? — perguntou uma das aves, ao mesmo tempo que lhe mostrava a imensidã

As Fraudes e Segredos do Coronelismo

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Desde sempre abandonadas pelo poder público, vivendo no analfabetismo, na pobreza, na ausência de assistência médica e judiciária, exposta à violência de malfeitores como jagunços e cangaceiros ou do poder da polícia, as populações rurais e das pequenas cidades  em tudo dependiam dos favores dos coronéis para viver. A origem do Coronelismo remota ao início da República, onde os coronéis se caracterizavam por serem os detentores do controle de uma massa de eleitores cuja conduta política podia ser manipulada e dirigida, a fim de satisfazer o projeto de eternização no poder local do grupo dominante. Sua importância variava conforme o número de eleitores que podia controlar, oferecendo proteção às populações residentes em sua área de influência, exigindo obediência. O processo de votação reservava inúmeras oportunidades de fraude e intimidação a fim de impor ao eleitorado a vontade dos coronéis. Tinham a possibilidade de fazer constar o voto de pessoas já falecidas e analfabetos

O Poder Maquiavélico

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Se pesquisarmos o significado da palavra "maquiavélico" no dicionário, iremos descobrir que se trata de uma pessoa extremamente interesseira, que calcula suas ações para obter o benefício próprio. Entretanto, apesar de Nicolau Maquiavel ter posto a nu uma política com realismo e frieza, diferente dos outros filósofos, seu principal objetivo foi concretizar sua teoria de que os fins justificam os meios, ou seja, o resultado final de uma obra justificará as ações realizadas no decorrer de seu processo. Em seu livro "O Discurso" podemos encontrar o seguinte trecho: "É justo, quando as ações de um homem o acusam, que os resultados o justifiquem." Maquiavel viveu entre o final do século XV e início do século XVI. Nesse período ocorria o início do renascimento que, como o nome já diz, era uma época em que se dava o surgimento de novas ideias nas diversas esferas do fazer humano. No entanto, ao contrário de seus antecessores, que entendiam a política com b

A Secreta Utopia de Shangri-La

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Os primeiros documentos budistas denominavam-na de Chang Shambhala e descreviam-na como fonte antiga de sabedoria. A crença na sua existência espalhara-se outrora — na China Dizia-se que, nas montanhas Cuenlun, existia um vale onde os imortais viviam em perfeita harmonia, enquanto na tradição indiana havia um lugar de nome Kalapa, no Norte dos Himalaias, habitados por "homens perfeitos". Tratava-se realmente de um lugar estranho e ao mesmo tempo incrível. A tradição budista que acreditava na existência de um paraíso subterrâneo conhecido como Agartha, foi também associada a Shangri-La. Um lama contou, certa vez, que tratava-se de uma grande cidade  no coração de Aghart, onde reinava o rei do mundo, convencendo a todos de uma ligação com todas as nações por túneis subterrâneos.  Dizem que no palácio do Dalai Lama, em Lassa, no Tibete, estaria ligado às entradas de Shangri-La — um lugar de quietude ao norte, chamado Portala — onde fora, outrora, o centro nacional reli

Consolo à Solidão

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Houve a publicação de várias obras póstumas de Humberto de Campos que falecera em 1934, deixando grande carga cultural para a humanidade. Mesmo vinte anos após sua morte, existia ainda material a ser publicado, dentre eles, uma crônica escrita no ano de 1931 chamada " A Consoladora". Nenhum rajá da Índia possuíra, jamais, um séquito como o daquele rei. Senhor de minas inesgotáveis, em que brilhava o ouro e a prata e rutilavam o diamante e a ametista, o rubi, a safira o topázio, a esmeralda, uma infinidade, em suma, de pedras luminosas e estranhas, aquele monarca vivia na opulência, mas cumprindo, na terra, um a terrível sentença: andar, continuamente, eternamente, perpetuamente, e sempre, dia e noite, na mesma direção. Foi para minorar esse castigo que ele organizou aquela comitiva soberba convidando para sua companhia todos os príncipes e princesas dos reinos vizinhos. A Amizade, a Riqueza, a Mocidade, a Fé, a Esperança, o Amor, o Ódio, a Caridade, a Ternura, a Tolerâ

Os Segredos da Cultura Céltica

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Entre os povos de estirpe indo-européia, os Celtas permanecem ao grupo dos ocidentais. Este grupo era constituído por antigas populações que, entre os séculos IV e III a.C., tinham ocupado a Irlanda, a Grã-Bretanha e a Gália, avançando de um lado até a Península Ibérica e do outro até a zona setentrional da Itália, e de lá rumaram para o Oriente, até o Mar Negro. Autores clássicos gregos e romanos transmitiram-nos notícias sobre os Celtas, mas estas fontes, pelo que diz respeito ao estudo da religião por estes praticadas, demostraram-se incompletas e de escasso valor. Antigos vestígios atestam que, originalmente, o fundamento da religião dos Celtas era o naturismo, do qual derivou o culto das fonte, do rios, das árvores e do sol. No quadro de paganismo céltico figura, de maneira singular, uma cesta de sacerdotes, os Drúidas ou homens sábios, cuja origem é ainda obscura. Acredita-se que fossem dedicados a estudos naturalísticos, filosóficos e teológicos, os quais, em seguida, ass

O que você precisa saber sobre a ONU?

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A Organização das Nações Unidas (ONU) é uma instituição de caráter universal, pois visa congregar todos os Estados do mundo e compor seus conflitos mútuos na qualidade de guardiã da paz. É a sucessora da Liga das Nações, criada logo após a Primeira Guerra Mundial, na Conferência de Versalhes de 1919, e que acabou fracassando principalmente por não contar, entre seus filiados, com os Estados Unidos da América do Norte e a União Soviética. A ONU conta com 192 Estados filiados, cuja vinculação decorre de um tratado (Carta da ONU) que discorre sobre os direitos e as obrigações daqueles. A organização compreende seis órgãos principais: Assembléia Geral, Conselho de Segurança, Conselho Econômico e Social, Conselho de Tutela, Tribunal Internacional de Justiça e Secretariado, todos situados na própria sede da ONU (Nova York), exceto o Tribunal Internacional de Justiça, sediado em Haia. O Conselho de Segurança é formado por quinze membros, dos quais cinco são permanentes (Estados Unidos,

O Vento do Norte Bóreas e o Sol Hélio

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Hélio e Bóreas, olhando para a terra, viram um viajante que se preparara muito bem para não ser surpreendido por uma borrasca. E era natural que ele assim se precavesse, pois era princípio de outono, estação em que nunca se sabe que tempo se enfrentará ao amanhecer um dia, mesmo que comece claro e ensolarado. E sempre o irisado arco-íris avisa que por essa época nunca é demais trazer-se uma capa. Foi pensando nisso que nosso viajante se agasalhou com grosso e pesado capote. — Este está pensando — disse Bóreas — que pelo simples fato de trazer uma capa, livra de qualquer eventualidade. Não pensou, porém, que me basta soprar com um pouco mais de violência e sua soberba capa voará. Até que seria bem engraçado ver como ele procederá em tal apuro. Vamos experimentar? — Ora, deixemos de tantas palavras e vamos ver qual de nós dois conseguirá mais rapidamente despojá-lo do capote — respondeu Hélio. Podes começar. E para facilitar tua tarefa, eu ainda te permito que escureças meus ra

A Lenda Haitiana de Ghede

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Existe uma lenda haitiana que diz que um dos mais poderosos deuses do vodu é Ghede, Senhor da Morte, e também conhecido como Barão Semedi. Afirmam ser o mais sábio de todos os deuses, pois em sua cabeça guarda o conhecimento de tudo que já viveu, podendo trazer até mesmo os mortos de volta a vida. Quando Ghede sai da escuridão para a luz, tem de usar óculos escuro para proteger seus olhos. Mas frequentemente tira a lente direita dizendo: "Com meu olho esquerdo olho o mundo inteiro, com o direito, fico de olho na minha comida, para ter certeza que nenhum ladrão levará". Pois Ghede tem uma fome insaciável, jogando a comida na boca e fazendo-a descer com sua bebida especial, puro rum temperado com vinte e um temperos ardidos. Não há nenhum ser vivo que consiga tomar desse rum, mas Ghede não se importa. Não pisca, mesmo se o fortíssimo líquido espirrar em seus olhos. Às vezes Ghede aparece como um mendigo esfarrapado, mas na maioria das vezes usa roupas de gala: carto

A Verdadeira Aristocracia

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Aristóteles, que individualizou com maestria essa forma de governo, afirmou que a aristocracia era o governo confiado aos melhores pelos cidadãos, sem distinções de nascimento ou riqueza.  Sendo assim,  significava, literalmente, governo dos sábios e daqueles que apresentavam superioridade não só intelectual, mas também moral.  Caberia aos aristocratas,  dirigir o Estado no rumo do verdadeiro bem. Na antiga Grécia, as origens da aristocracia remontam aos tempos homéricos,  designando o estamento que limitava o poder do rei. Durante o século  VII a.C. ocorreram sensíveis modificações socioeconômicas, surgindo uma  nova elite, estribada não mais na propriedade fundiária ou no sangue, mas na riqueza  pecuniária, e que seria denominada oligarquia, embora mantendo em seu  tempo, prudentemente, a denominação aristocracia. Em Roma, a aristocracia teve seu maior destaque durante a republica senatorial, por outro lado,  ao contrario do que proclamaram Políbio e Cícero, o equilíbrio d