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Mostrando postagens de 2021

A Caixa Formadora de Palavras

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Às vezes abro a caixa formadora de palavras na esperança de encontrar um caminho. Eles, por sua vez, se misturam em meandros literários e, partindo da imaginação plantada no interior da pequena e frágil caixinha, começam a imprimir sílabas de uma história desorganizada. Sabe qual é o papel do escritor? Pegar cada uma dessas sílabas e encontrar o dito caminho certeiro por conta própria. Só ele é capaz de decodificar o segredo da caixa. Pois a mesma se mostrar em diferentes fases, como uma lua, invisível aos olhos, capaz de concretiza as estações da alma. Ter uma caixa dessas é viver esperando pela história perfeita. E ter consciência de que ela não existe. Afinal, no engendro de significados interpretativos não existe uma palavra solitária. Ela se junta às demais para conduzir o leitor em meio aos múltiplos universos criados a partir da sensibilidade do artista. Se voltarmos à alma iluminada pela lua, veremos que as fases são regadas por sentimentos diversos. E estes não são domesticado

A Casa dos Passarinhos

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Alguma história fugiu das páginas para se pendurar numa árvore, vestiu-se de barro ornamentado e fantasiou-se de casa dos pássaros para se fazer presente no mundo real. Na árvore, a história ganhou vida ao som dos sonhos voláteis que ouvia nas noites de chuva; eram as aves tristonhas contando as peripécias do dia. Ao verem aquele abrigo chamativo, não hesitaram em entrar. Ali fizeram morada, mas logo partiram. Não aguentaram viver em um conto de fadas por muito tempo. Sentiam falta das emoções e desafios que um ninho feito no bico trazia. A casinha, então, presenciou o último voo de suas companheiras e ecoou a solidão pelo espaço vazio de suas entranhas. À noite chegaram os vaga-lumes. Acenderam-se no esplendor de sua fosforescência. Era a magia acontecendo de novo na velha casa dos passarinhos. Sentia-se um santuário aos pequeninos seres da luz e, durante toda a passagem do manto noturno, vibrou de contentamento por se declarar preenchida. Sua desilusão veio apenas de manhã, quando os

Portão de Ferro

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Aquele portão de ferro me trouxe um espectro assombroso de tempos apinhados em lágrimas escorridas por rostos sofridos, calos em mãos que nunca pegaram numa caneta, terços rezados com afinco em noites de desespero, vida vivida no canto de barro e madeira carcomida. A igreja de portas fechadas; da escada, só lembranças de sapatos enlameados pelo percursos. Hoje, um jardim repousa ali. Suave como uma brisa tímida passando rasteira nos calcanhares de quem adentrava aqueles portais com altivez. A igreja não era para todos. Na fazenda havia um rio há muito explorado: de sangue, correndo vivo nas entrelinhas da história. A flores que tiram da terra seus nutrientes sequer sabem o que a mesma terra usou para nutrir-se quando uma mão no arado era mais valiosa do que no lápis. E apesar da severidade do tempo, a pequena igrejinha resistiu com as paredes alvejadas.  No adro, pedras encaixadas expondo manchas da estação. O musgo ressequido tomou conta dos lugares ocupados pelas pranteadoras dos sen

Singela Cascata

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Hoje te contemplei, singela cascata; quase ofuscada em derradeiros rasantes, mas muito apreciada em páginas já esquecidas ou arrancadas de trágicos exemplares. Isso me fez pensar na vida: tuas águas minguantes outrora tão quistas, como puderam transpassar a história para o lado absorto da vivência? E apesar da sombra estampada pelas pedras molhadas, com ares de dias já findados, a pequena e tímida queda ainda compõe uma canção às aves que ali se banham. Tudo bem, cascata acanhada. É trabalho do tempo fazê-la correr por entre os rochedos e encontrar caminho na densa mata fria. Para que se lembrar da história agora? Só te traria tristeza, quando por conseguinte viesse ao reflexo de dias azulados o rubro tom do sangue derramado em suas margens agora tão plácidas. Quantos ali perderam suas vidas, banhando as feridas e enterrando os sonhos? Se eu soubesse a resposta, quem sabe teria tuas feições em meu rosto no instante em que meus olhos cruzaram teu reflexo. E outras cascatas escorreriam r

A Experiência de Escrever Sobre Lugares

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Um lugar é capaz de nos envolver em contrastes de diferentes significados. Seja pelo clima da região; pelas pessoas que lá habitam; pelo meio ambiente ao redor: em florestas, montanhas, oceanos, desertos e qualquer outro pertencente ao nosso grande planeta. Tem também a personalidade, algo importante a ser mencionado, que está dentro do âmbito pessoal do lugar em questão. Este mesmo traz sua personalidade de acordo com a tradição, a cultura e a história. Algo lapidado com o passar do tempo que não se desvenda ao primeiro olhar; é preciso ir além, e semear a sensibilidade para poder enxergar o que há escondido nas entrelinhas. Suponhamos que os lugares se dão como textos. O maior tesouro a ser descoberto é o estilo de escrita do autor, bem como aquilo que ele quis dizer com suas palavras. No caso dos lugares, o autor são seus nativos. Os que lá nasceram e nutriram raízes na terra que delineia o horizonte. Pois bem; nem sempre o que é verbalizado transmite a verdadeira essência. Os lugar

Escrever Fantasia: Um Escape à Realidade

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Depois de muito desbravar a escrita realística, passando de crônicas às resenhas literárias, com opiniões formadas sobre conceitos estéticos reais, adentrei no mundo da fantasia que já vinha consumindo pela leitura como um viés a ser explorado. Confesso que me surpreendi.  O concurso Raças da Fantasia, no perfil de mesmo gênero do Wattpad, foi o insight necessário para que eu pudesse adentrar a noite criacionista sem limites nos extremos. A regra era escrever sobre reinos que, por um enredo, eram conectados em suas diferenças. Daí que surgiu Tarnin: O Desbravador da Tempestade. Foi uma experiência fantástica criar tudo do zero, partindo das características dos três grandes povos e indo ao encontro de um desfecho que unisse às diferenças em uma única premissa. Por fim, nasceu um conto de quase quatro mil palavras para se encaixar às regras da seletiva. Digo que minha mente viajou enquanto imaginava as cenas e as punha no papel. Era uma verdadeira canção sendo composta. Uma sensação únic

Como ler livros de graça no Wattpad?

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Até hoje, grande parte dos amantes da literatura desconhece as novas ferramentas que podem ser utilizadas para facilitar o acesso dos livros aos leitores. É sabido que as gerações passadas só tinham à disposição as páginas físicas de grandes calhamaços empoeirados que, frequentemente, eram pegos nas saudosas bibliotecas municipais. Caso o assíduo leitor possuísse um poder aquisitivo mais avantajado, ele poderia ir até uma das grandes livrarias e comprar a história que lhe chamasse atenção, bem como alugá-la em alguma biblioteca particular — algo bem comum na década de noventa. Hoje as coisas já são mais fáceis, graças a internet que se tornou sinônimo de oportunidade para artistas e consumidores da arte.  Obviamente nada substitui a sensação de virar uma página ou sentir o cheiro de um livro recém-impresso saído de uma prateleira. Mas como tudo que é consumido atualmente, a adaptação para facilitar o acesso é necessária quando não temos a oportunidade de unir o produto ao consumidor. P

O Pianista, de Wladislaw Szpilman

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Sempre afirmei que os romances históricos tem algo a mais para fazer os leitores concluírem sua viagem literária de forma primorosa. Tanto no quesito ficcional, quando eles conseguem se colocar na pele dos personagens, quanto no cultural, quando afloram em si o conhecimento histórico transpassado pelo exemplar vigente. Um livro é considerado bom quando os anos são para ele como flores no jardim: colorem sua essência.  Alguns meses atrás li O Pianista; romance altamente comentado por críticos de todo o mundo e transpassado pelos anos como um refletor de saberes. É de conhecimento que a obra deu origem ao premiado filme de Roman Polanski, retratando os horrores do massacre aos judeus pelos nazistas no período da Segunda Guerra Mundial. O exemplar contém tudo isso em suas páginas mas com um resplendor responsável por levar o enredo à sua singularidade poética.  A premissa saturada por outros autores não foi empecilho a Wladislaw Szpilman, pois o mesmo se encontra no seleto grupo de escrit