Barjanes e as Areias Mutantes do Sahara


Durante a noite ouviram-se estranhos gritos e surgiram furtivas figuras desaparecendo entre as resplandecentes dunas ou seguindo as marcas das caravanas de camelos. Dessas visões nasceram os contos de fantasmas. Os nômades juram que viram esses terríveis demônios devoradores de homens, assinalando como evidência os ossos do deserto e perguntando: "Quem senão os demônios podem deixar limpos uns ossos no deserto?" Provavelmente a resposta é "a areia". E a areia, amontoada pelo vento numa pequena coluna, pode facilmente induzir a confundi-la com um ser sobrenatural.
Vastas colinas estendem-se pelo horizonte como um tapete sempre em modificação. Lados lisos, dunas de afilados cumes e todo o conjunto imitando de maneira desconcertante a sucessão das ondas do mar.


A interminável procissão das mutantes dunas são, ao mesmo tempo, impressionantes e desorientadoras. Ao olhar a nua mas majestosa terra resultaria difícil apoiar a opinião do novelista argelino Albert Camus, que descreveu o deserto como uma terra de beleza inútil e insubstituível. O vento constante, que nunca deixa de soprar, esculpe a areia conferindo-lhe fantásticas formas para destruí-las depois.
Quando os ventos sopram com força, de maneira contínua e numa única direção, esta areia se amontoa para originar grandes dunas em forma de meia lua, chamadas "barjanes". Apenas a areia finíssima e o pó  se acumulam na parte alta do ar, geralmente com uma densidade suficiente para ocultar o sol a muitas milhas de distância do coração de uma tempestade. Além disso, os efeitos de tais tempestades nem sempre se limitam ao deserto. O pó do Sahara cruza às vezes o mar Mediterrâneo para a Europa. Na Argélia, depois de uma tempestade, em 1947, parte dos Alpes Suíços tornaram-se rosados devido ao pó procedente do Sahara.


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