As Perguntas, de Antônio Xerxenesky


Fico muito satisfeito quando vejo um gênero literário pouco desenvolvido no Brasil se expandir e propagar essa arte empática a novos leitores cujo interesse às obras de ficção despertam o apreço pelo simples, porém almejante, ato de virar uma página. O livro "As Perguntas", de Antônio Xerxenesky, trouxe uma extravagância ao acervo nacional quando propôs mesclar coisas corriqueiras que acontecem diariamente numa grande metrópole, com incógnitas sombrias que instigam o avanço dos capítulos e formam, a cada parágrafo, perguntas na mente dos afortunados leitores.


Essa primazia do título em relação a obra se faz presente ao longo de todo o exemplar que se desenvolve junto à singularidade da escrita do autor. Sim, afinal o mesmo nos apresentou a obra pela sinopse como um romance policial, onde a protagonista é convidada a resolver um caso com a polícia. Mas à medida em que vamos nos aprofundando no enredo, percebemos que trata-se de uma trama introspectiva pela qual a personagem se desenvolve, descobrindo temores e anseios que dão margem às  perguntas pertinentes que intitulam o livro.


Alina, a protagonista, é uma mulher beirando seus trinta anos que trabalha numa agência de publicidades como editora de vídeos. A frustração toma conta de seus dias pelo fato de estar afastada de sua área de formação. Sendo ela doutoranda em história das religiões, especializada em tradições ocultistas, se sente fracassada por ter uma vida repleta de obrigações que a fazem se acomodar na rotina, quase desistindo de seus sonhos. A ranhura das surpresas acontece quando a moça, certa manhã, recebe um telefonema da polícia solicitando sua ajuda para resolver um caso que, aparentemente, necessitaria de seus conhecimentos acadêmicos.
Até aí, é possível classificar o romance como qualquer outro criminal disponível aos montes nas prateleiras das livrarias; contudo, como já mencionei, o ponto central se torna a influência das relevações na vida de Alina, como questões que dizem respeito ao seu modo de pensar, de agir e de crer naquilo que acontece à sua volta. Ora, como relacionar seu ceticismo ao interesse pelas forças sobrenaturais? Uma vez que a mesma tenha se formado nessa área e ainda permanece descrente na vida após a morte.


Também não se trata de um exemplar de terror ou suspense, ainda que contenha características desses gêneros compondo a narrativa, tais como sombras em lapsos de segundos ou a descrição da personagem ao adentrar num cenário misterioso. Como já disse, a obra gira em torno das perguntas que se formam no raciocínio da protagonista, cujo desfecho acontece de forma interpretativa, cabendo a cada leitor a responsabilidade de saber ler o texto e decifrar suas nuances.


Posso sintetizar dizendo que gostei do exemplar pois o mesmo nos faz refletir sobre nossa forma de pensar e agir. Seus detalhes se tornam ferramentas importantes para apurarmos as coisas rotineiras ao nosso redor, gerando perguntas tais quais aquelas que a escrita de Xerxenesky nos desperta. A edição da Companhia das Letras ficou excepcional, tanto nos conceitos diagramáticos quanto nos artísticos, em meio ao jogo de sombras e vultos num tom escuro. Concluo dizendo que o livro nos proporciona aquilo que o título já diz: perguntas. Mas não qualquer tipo de pergunta que impossibilita o desfecho da narrativa. Trata-se de questões reflexivas que nos possibilita seguir um itinerário através de uma realidade monótona junto à contingência da improbabilidade. 

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Título: As Perguntas
Autor: Antônio Xerxenesky
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 184 | Publicação: 2017
Sobre: Antônio Xerxenesky é um porto-alegrense nascido no fim de 1984. Autor do romance "Areia nos dentes", já publicou narrativas curtas em antologias como "Ficção de Polpa" e o livro de contos "Entre". Seu conto "O desvio" foi adaptado para a tevê por Fernando Mantelli em 2007. Ainda é uma novidade nas prateleiras de literatura – mas não por muito tempo.

Comentários

  1. Amei o exemplar e a resenha! Parabéns e muito obrigada por compartilhá-la conosco.
    Sucesso. Beijos!!!! :* <3

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    1. Obrigado pelo seu comentário, Sophia! Fico feliz que tenha gostado.

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