A Experiência de Escrever Sobre Lugares


Um lugar é capaz de nos envolver em contrastes de diferentes significados. Seja pelo clima da região; pelas pessoas que lá habitam; pelo meio ambiente ao redor: em florestas, montanhas, oceanos, desertos e qualquer outro pertencente ao nosso grande planeta. Tem também a personalidade, algo importante a ser mencionado, que está dentro do âmbito pessoal do lugar em questão. Este mesmo traz sua personalidade de acordo com a tradição, a cultura e a história. Algo lapidado com o passar do tempo que não se desvenda ao primeiro olhar; é preciso ir além, e semear a sensibilidade para poder enxergar o que há escondido nas entrelinhas.

Suponhamos que os lugares se dão como textos. O maior tesouro a ser descoberto é o estilo de escrita do autor, bem como aquilo que ele quis dizer com suas palavras. No caso dos lugares, o autor são seus nativos. Os que lá nasceram e nutriram raízes na terra que delineia o horizonte. Pois bem; nem sempre o que é verbalizado transmite a verdadeira essência. Os lugares precisam ser sentidos para depois serem entendidos. Se é que há entendimento; muitas vezes, as nuances culturais ramificam-se para diferentes interpretações, sendo capazes de formar uma faustosa copa de inúmeros pontos de vista.

Por isso a importância de ir nos lugares com o coração aberto. Não apenas vendo o que todo mundo vê, mas tendo a destreza de perceber nas ramificações os frutos vigentes. Trazendo isso a exemplos práticos, se imaginarmos uma cidadezinha de interior hipotética, repleta de beleza natural, com vielas de pedras e casarios coloniais, não encontraremos profundidade apenas admirando a obra por si só, pois isso é como olhar um retrato estático. Somente conseguimos visitar o lugar, de fato, quando deixamos os sentimentos serem despertados. Quando notamos que o vento de lá tem uma nota diferente em suavidade e que as folhas das árvores farfalham em outra melodia. Até a cor do céu pode ser diferente quando sensibilizamo-nos a esta diligência.

O ato de visitar um lugar precisa fazer as emoções virem à tona da essência, uma vez que somos seres humanos. Por conseguinte, uma viagem emocionante é uma viagem feita com olhos de quem admira a arte em seus matizes. Não deixa de ser um encontro com uma nova versão de nós mesmos. Afinal, estamos pisando em terras que antes não correspondiam ao nosso conhecimento. Está aí descrita: a arte de viajar. O que seria a arte senão uma ferramenta de expressividade sentimental emotiva? A resposta pode ser mais ampla que isso, certamente. Acontece que a experiência de escrever sobre lugares também ultrapassa limites inexplorados. Falo isso por experiência própria.

Dependemos de dois galhos da expressividade, sendo o primeiro a própria viagem. Depois é necessário um tempo para que tudo se organize na mente. Em seguida, a escrita. E é aí que vem o diferencial. É neste ponto que percebemos o que extraímos da experiência, pois muito do que vivemos fica preso nas próprias correntes que temos em nós mesmos, e só é liberto quando passamos tudo para o papel. Eu, por exemplo, diferentemente de críticos de viagem que destacam restaurantes e hotéis, bem como melhores lojas ou rotas alternativas, escrevo sobre a vivência. Trago poesia em narrativa descritiva e faço da viagem uma fonte artística para escrever sentimentos marcantes envolvidos pela surpresa do novo.

Escrever sobre lugares é um aprendizado ininterrupto para alguém que faz da escrita um refúgio. Ensinou-me a ver poesia nas ruas; histórias em rostos desconhecidos; segredos entre tijolos, pedras e vigas; cores sobre a natureza e sensibilidade nas portas entreabertas. Também ensinou-me as diferentes canções do vento e as formas que o horizonte pode ilustrar na mente de um ser pensante que avista novas montanhas pela primeira vez.

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