Palavras Pensantes, por Gabriel Buzzi


Consumir conteúdo nunca foi tão fácil. A popularização da internet e o fácil acesso à rede em smartphones e tablets, fizeram com que qualquer um pudesse consumir conteúdo em praticamente qualquer lugar. No entanto, a abundância de análises, críticas e notícias, trazem à tona uma figura importante no mundo dos sites e blogs: o editor.
A suposta “crise na produção de conteúdo” da qual tantos falam nos veículos de comunicação, certamente não se deve a falta de público. O que percebo, porém, é a falta do conteúdo de qualidade, de “palavras pensantes” com uma boa edição, uma seleção de imagens correta e troca de ideias que seja naturalmente provocada entre os leitores. O público geral – e aqui é necessário ressaltar o papel da juventude – continua buscando por novas fontes de informação seguras para desenvolver sua própria forma de enxergar o mundo.


Em um período onde as redes sociais se tornaram espaço para os famigerados “textões”, a facilidade de emitir uma opinião descuidada e imprecisa surpreende. Por isso, a busca por bons produtores de conteúdo está cada vez maior e o veredito do público vem nos mais corriqueiros momentos do cotidiano. Acontece no transporte a caminho do trabalho, na hora do almoço antes de voltar ao escritório e até mesmo no banheiro, onde o smartphone substituiu os jornais e revistas.
De certa forma, navegando nesse vasto oceano da internet, ainda fico surpreso toda vez que encontro “fora do grande circuito” alguém capaz de editar informações confiáveis, equilibradas e relevantes sobre o mundo em que vivemos. Foi buscando produzir este tipo de conteúdo que surgiu o blog 500 Palavras e dando continuidade à esta busca, que descobri o Pena Pensante. Fico feliz em ver que todos os dias surgem pessoas dispostas a ajudar o público a encontrar de forma eficaz, dinâmica e acessível, o conhecimento que está buscando. Essa “revolução do conhecimento” realmente é para nos fascinar!


Me preocupa, no entanto, até onde essa “revolução” conseguirá chegar. Vivemos um período onde a maior parte dos blogs que produzem conteúdo estão se fechando através de assinaturas mensais. Ora, sobreviver é preciso e escrever, produzir, editar e divulgar leva um tempo considerável. Tudo em troca de um trabalho voluntário e não remunerado, cuja única intenção é tornar-se uma fonte confiável de conhecimento. Logo, é natural que “cobrar” pelo o que é consumido se torne necessário em determinado momento.
Nesse sentido, descobri recentemente uma nova investida no meio desta grande revolução. Alguns blogs passaram a pedir aos seus leitores a contribuição financeira necessária para desenvolver seus trabalhos, todavia, sem fechar seu conteúdo. Trocando em miúdos: se você gosta do que produzimos, nos ajude a continuar produzindo! Este é o mais novo capítulo deste grande romance e mostra um personagem que passou por grandes transformações, se revelando cada vez mais maduro: o público.
Esta ainda tímida consciência popular de que algo é bom e merece ser remunerado, é fruto de uma grande batalha disputada “palmo a palmo” por aqueles editores que se negaram a aderir a lógica do “pague-nos ou deixe-nos”. Esta recém-nascida mudança de mentalidade, certamente não significa ainda o fim da mídia tradicional, mas mostra a perda da sua relevância hegemônica. É possível dizer, sem medo de errar, que os próximos capítulos deste romance serão escritos pelos “revolucionários” que agora, mais do que nunca, contam com o apoio da “torcida”. Vamos aguardar!

Gabriel Buzzi: Internacionalista, auditor independente e consumidor dos mais diversos tipos de conteúdo na internet, é o editor e colunista de negócios do blog “500 Palavras” (https://500palavras.com/). Apaixonado pelas Ciências Humanas, contribui sempre com a sua visão de mundo, sobretudo, a perspectiva do ambiente de negócios, atitudes empreendedoras, ações de marketing e tudo o que envolve o amplo universo corporativo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A História de Caronte: O Barqueiro dos Mortos

Mobilismo e Monismo

O Segredo de Cura dos Índios

A Livraria, de Penelope Fitzgerald