O Trem que Leva a Esperança, de Alison Pick


Depois de já ter lido algumas obras que abordam o tema dos judeus e nazistas do período da Segunda Guerra Mundial, desenvolvi a habilidade de perceber os diferentes ângulos que os autores utilizam para transcorrerem suas respectivas histórias, destacando os aspectos mais tocantes dentro de suas linhas de raciocínio. Seja pelo massacre; pela separação; pelo olhar de uma criança sobre o sangue derramado, o tema sempre irá nos despertar para novos questionamos, ainda que sua premissa já esteja esmiuçada. Nesse ponto, conseguimos perceber quem são os bons escritores: aqueles que conseguem extrair um novo panorama em meio à saturação do conteúdo.


Alison Pick, de fato, teve esta capacidade ao escrever o Trem que Leva a Esperança. Não foi à toa que a consagrada autora canadense, colecionadora de vários prêmios ao longo de sua carreira, conquistou o Jewish Book Award e uma indicação ao Man Book Prize pela obra preciosa que ganha sua primeira edição brasileira. No período onde a esperança parece extinguir-se diante das batalhas sanguentas, Pick nos dá a chance de conhecer a família Bauer, de origem judaica e bem conceituada no ramo industrial, que começa a sofrer os primeiros problemas, tais como perseguições e preconceitos, como ponto de partida do exemplar.


Pavel Bauer, que antes deleitava-se com bons charutos e uísques na antiga Tchecoslováquia, e sua esposa Annelise, figura assídua dos grandes salões de ópera, usufruíam de uma vida confortável ao lado do filho Pepík que ficava sob os cuidados da governanta da residência, Marta. Com a eclosão da grande guerra, a tomada da região de Sudetos pelos nazistas e sua anexação ao território da Alemanha, os Bauer tiveram sua vivência drasticamente atingida. Tentando abandonar o país e não obtendo sucesso, o casal vê como única solução uma operação humanitária chamada de Kindertransport, onde crianças judaicas eram transportadas das áreas ocupadas pelos nazistas ao Reino Unido. A separação das famílias que aderiam o viés ocorria em nome da segurança; as crianças eram entregues pelos parentes para embarcarem em vagões selados até o destino final, assim poderiam ser adotadas.


É nesse ponto que a obra exprime sua dramatização. De acordo com relatos da época, mais de 10.000 crianças embarcaram neste trem, sendo muitas delas as únicas sobreviventes de suas famílias. Com uma narrativa extensa, o livro evidencia o aspecto da separação e do medo em seu desenvolvimento, que é relatado de duas maneiras. A primeira voz é da governanta, enquanto a segunda é da historiadora Lisa, que se dedica em pesquisar sobre as crianças que embarcaram no Kindertransport.


Sintetizando, trata-se de um livro com um elevado conteúdo histórico que tem muito a oferecer aos leitores. A união das duas narrativas dá o desfecho à obra e serve para amadurecermos nossa forma de pensar e refletir sobre tragédias e suas consequências. Falar sobre o Holocausto requer delicadeza e maestria, ainda mais quando sendo em narrativas, pois é preciso unir o conhecimento histórico ao domínio da escrita que o autor oferece. Assim, finalizo minha análise com as palavras do Daily Mail sobre Alison Pick, ao dizer que seu romance é preciso, intimista e cativante, fazendo a perplexidade da premiada escritora um componente essencial dessa extraordinária história.

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Título: O Trem que Leva a Esperança
Autor:  Alison Pick
Editora: Paz & Terra 
Publicação: 2018
Páginas: 322
Sobre: Alison Pick é romancista e poeta. Graduada em pedagogia pela University of Guelph, com mestrado em filosofia pela Memorial University of Newfoundland, recebeu diversos prêmios ao longo de sua carreira. Este e seu primeiro livro publicado no Brasil.

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