O Pianista, de Wladislaw Szpilman



Sempre afirmei que os romances históricos tem algo a mais para fazer os leitores concluírem sua viagem literária de forma primorosa. Tanto no quesito ficcional, quando eles conseguem se colocar na pele dos personagens, quanto no cultural, quando afloram em si o conhecimento histórico transpassado pelo exemplar vigente. Um livro é considerado bom quando os anos são para ele como flores no jardim: colorem sua essência. 
Alguns meses atrás li O Pianista; romance altamente comentado por críticos de todo o mundo e transpassado pelos anos como um refletor de saberes. É de conhecimento que a obra deu origem ao premiado filme de Roman Polanski, retratando os horrores do massacre aos judeus pelos nazistas no período da Segunda Guerra Mundial. O exemplar contém tudo isso em suas páginas mas com um resplendor responsável por levar o enredo à sua singularidade poética. 
A premissa saturada por outros autores não foi empecilho a Wladislaw Szpilman, pois o mesmo se encontra no seleto grupo de escritores que vivenciaram o terror dos anos da guerra como um judeu dentro da Alemanha nazista. O pianista viveu e sofreu cada linha de seu livro; retratando o que ele e sua família passaram, vivenciando um pesadelo que nem a mais sórdida mente poderia imaginar por conta própria.


O fator singular que traz a especificidade ao título é a arte; mais precisamente a música. Em determinados trechos, isto trouxe uma dramaticidade indecorosa, como o medo de Szpilman em comprometer as mãos pelo frio ou trabalhos manuais aos quais era submetido a desempenhar. Caso isso ocorresse, toda sua carreira estaria arruinada. A fome também é retratada de forma aterrorizante, como os dias em que ele ficou preso em um apartamento sem poder sair. Passamos pela dor, pelas reações do seu corpo desnutrido e, também, pela tristeza de ser esquecido. Tudo em um conglomerado de palavras ajuntadas no compasso da comiseração.
É importante ressaltar que Szpilman nunca se autoconsiderou um escritor, mas sim alguém que vivenciou tamanha atrocidade e se sentiu chamado a escrever. Eu, particularmente, digo que a arte habitava em seu íntimo; dominando o piano com maestria, migrou sua inspiração à escrita e nos contemplou com sua magnifica obra tão importante para enriquecer o acervo de qualquer um que queira aprender sobre o massacre histórico que tirou a vida indignamente de milhões.
É uma joia, de fato. Lapidada pelas mãos precisas e artísticas do autor. Foi importante para eu entender como uma personalidade aprimorada e erudita enfrentou os anos de guerra estando do lado oprimido e massacrado. Toda desconsolação retratada em seus parágrafos foram traduzidas em olhares marejados e lágrimas impressas na face de alguém que vê na arte um gatilho para vivermos uma realidade diferente.  Em síntese, trata-se de uma obra demasiadamente recomendada.

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