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A Metamorfose, de Franz Kafka

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Nesse jogo de objetividade, o assombroso ganha moldes de angústia e descontrole; a fantasia do inacreditável se esconde com o manto da realidade obscurecente que inebria a razão dos leitores. Estes lançam uma pergunta: o que é que aconteceu? E no coro melancólico de incertezas, as linhas da metamorfose vão lapidando a percepção de valores que abrange desde a singela apreciação da arte até os conceitos tortuosos da metafísica. Ler A Metamorfose, de Franz Kafka, é ter a oportunidade de navegar por interpretações metafóricas ou permanecer contemplando a intenção denotativa das palavras. De qualquer modo, a narrativa traz consigo uma série de compreensões sobre o cotidiano trivial do protagonista que é surpreendido por sua metamorfose em determinada manhã. Gregor Samsa se transforma em um inseto repugnante e a partir daí sua vida muda drasticamente. Assim vamos nos aprofundando pelas dores do personagem que antes era o esteio da família, mas que agora se resume no rastejar em torno de sua

Drummond me deu a "Conclusão"

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Cheguei num ponto da vida onde leio Drummond do lado de fora da Sala Minas Gerais, com todas as luzes vermelhas compondo a orquestra de cores da minha imaginação. Sabe-se lá como vim parar aqui. Diante de toda poesia que isso representa, recordo-me do Pena Pensante e no que ele se transformou ao longo dos anos. Na verdade, o correto seria: no que ele me transformou. De certo, em amante. Amante das palavras que muitas vezes intitulei desorientadas por não fazerem sentido quando lidas com a razão. Somente após abrir as portas da alma foi possível guiá-las por um rumo mais "orientado". Até elas se perderem, de novo. Mas vamos com calma. O Pena Pensante começou como um diário de ideias, projetos, sonhos e inspirações. Somente depois ele se transformou em um site literário um tanto quanto — ou nem tanto — reconhecido. Parcerias editoriais vieram e ele se viu no auge de sua essência. "Viva a literatura!", bravejava em suas páginas indiretamente. Tiveram contos, fábulas e

A Caixa Formadora de Palavras

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Às vezes abro a caixa formadora de palavras na esperança de encontrar um caminho. Eles, por sua vez, se misturam em meandros literários e, partindo da imaginação plantada no interior da pequena e frágil caixinha, começam a imprimir sílabas de uma história desorganizada. Sabe qual é o papel do escritor? Pegar cada uma dessas sílabas e encontrar o dito caminho certeiro por conta própria. Só ele é capaz de decodificar o segredo da caixa. Pois a mesma se mostrar em diferentes fases, como uma lua, invisível aos olhos, capaz de concretiza as estações da alma. Ter uma caixa dessas é viver esperando pela história perfeita. E ter consciência de que ela não existe. Afinal, no engendro de significados interpretativos não existe uma palavra solitária. Ela se junta às demais para conduzir o leitor em meio aos múltiplos universos criados a partir da sensibilidade do artista. Se voltarmos à alma iluminada pela lua, veremos que as fases são regadas por sentimentos diversos. E estes não são domesticado

A Casa dos Passarinhos

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Alguma história fugiu das páginas para se pendurar numa árvore, vestiu-se de barro ornamentado e fantasiou-se de casa dos pássaros para se fazer presente no mundo real. Na árvore, a história ganhou vida ao som dos sonhos voláteis que ouvia nas noites de chuva; eram as aves tristonhas contando as peripécias do dia. Ao verem aquele abrigo chamativo, não hesitaram em entrar. Ali fizeram morada, mas logo partiram. Não aguentaram viver em um conto de fadas por muito tempo. Sentiam falta das emoções e desafios que um ninho feito no bico trazia. A casinha, então, presenciou o último voo de suas companheiras e ecoou a solidão pelo espaço vazio de suas entranhas. À noite chegaram os vaga-lumes. Acenderam-se no esplendor de sua fosforescência. Era a magia acontecendo de novo na velha casa dos passarinhos. Sentia-se um santuário aos pequeninos seres da luz e, durante toda a passagem do manto noturno, vibrou de contentamento por se declarar preenchida. Sua desilusão veio apenas de manhã, quando os

Portão de Ferro

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Aquele portão de ferro me trouxe um espectro assombroso de tempos apinhados em lágrimas escorridas por rostos sofridos, calos em mãos que nunca pegaram numa caneta, terços rezados com afinco em noites de desespero, vida vivida no canto de barro e madeira carcomida. A igreja de portas fechadas; da escada, só lembranças de sapatos enlameados pelo percursos. Hoje, um jardim repousa ali. Suave como uma brisa tímida passando rasteira nos calcanhares de quem adentrava aqueles portais com altivez. A igreja não era para todos. Na fazenda havia um rio há muito explorado: de sangue, correndo vivo nas entrelinhas da história. A flores que tiram da terra seus nutrientes sequer sabem o que a mesma terra usou para nutrir-se quando uma mão no arado era mais valiosa do que no lápis. E apesar da severidade do tempo, a pequena igrejinha resistiu com as paredes alvejadas.  No adro, pedras encaixadas expondo manchas da estação. O musgo ressequido tomou conta dos lugares ocupados pelas pranteadoras dos sen

Singela Cascata

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Hoje te contemplei, singela cascata; quase ofuscada em derradeiros rasantes, mas muito apreciada em páginas já esquecidas ou arrancadas de trágicos exemplares. Isso me fez pensar na vida: tuas águas minguantes outrora tão quistas, como puderam transpassar a história para o lado absorto da vivência? E apesar da sombra estampada pelas pedras molhadas, com ares de dias já findados, a pequena e tímida queda ainda compõe uma canção às aves que ali se banham. Tudo bem, cascata acanhada. É trabalho do tempo fazê-la correr por entre os rochedos e encontrar caminho na densa mata fria. Para que se lembrar da história agora? Só te traria tristeza, quando por conseguinte viesse ao reflexo de dias azulados o rubro tom do sangue derramado em suas margens agora tão plácidas. Quantos ali perderam suas vidas, banhando as feridas e enterrando os sonhos? Se eu soubesse a resposta, quem sabe teria tuas feições em meu rosto no instante em que meus olhos cruzaram teu reflexo. E outras cascatas escorreriam r

A Experiência de Escrever Sobre Lugares

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Um lugar é capaz de nos envolver em contrastes de diferentes significados. Seja pelo clima da região; pelas pessoas que lá habitam; pelo meio ambiente ao redor: em florestas, montanhas, oceanos, desertos e qualquer outro pertencente ao nosso grande planeta. Tem também a personalidade, algo importante a ser mencionado, que está dentro do âmbito pessoal do lugar em questão. Este mesmo traz sua personalidade de acordo com a tradição, a cultura e a história. Algo lapidado com o passar do tempo que não se desvenda ao primeiro olhar; é preciso ir além, e semear a sensibilidade para poder enxergar o que há escondido nas entrelinhas. Suponhamos que os lugares se dão como textos. O maior tesouro a ser descoberto é o estilo de escrita do autor, bem como aquilo que ele quis dizer com suas palavras. No caso dos lugares, o autor são seus nativos. Os que lá nasceram e nutriram raízes na terra que delineia o horizonte. Pois bem; nem sempre o que é verbalizado transmite a verdadeira essência. Os lugar