O Acordo do Rebanho e a Alcateia


Existe um antigo conto que nos narra a história de um acordo feito entre os lobos e as ovelhas que, depois de mais de mil anos de guerra entre si, resolveram, então, pela paz entre as duas raças, selar novamente a amizade de outrora. 
Esse acordo era vantajoso para os dois animais, pois, se era verdade que de vez em quando um lobo devorava uma ovelha, não o era menos que, também, às vezes os pastores matavam os lobos, fazendo de sua pele confortáveis agasalhos. E dessa forma nem as ovelhas tinham sossego para pastar, nem os lobos quando saíam à caça. Umas e outros estavam em contínuo sobressalto. Portanto, em benefício de todos, era muito oportuno o tratado de paz. Como garantia de que todos os quesitos do tratado seriam observados, os lobos deram seus filhotes como reféns, o mesmo acontecendo com relação à outra parte interessada, as ovelhas, que entregaram os mastins de sua guarda. E a troca de reféns foi feita com toda a solenidade.


Pouco tempo se passara desde este acontecimento, e os lobinhos se viram convertidos em lobos já grandes, famintos e vorazes, e com toda as inclinações dos de sua raça. Por isso, aproveitaram uma ocasião em que os pastores se encontravam ausentes, e furiosamente caíram sobre as desprotegidas ovelhas, degolando a metade do rebanho e arrastando-a para o lado mais denso da floresta.
Os outros lobos já se encontravam prevenidos secretamente do acontecimento e, enquanto seus filhos em outro sítio desbaratavam o rebanho, ali eles faziam o mesmo com os cães, que confiantemente dormiam a sono solto. Facilitada por esta circunstância a matança se fez num abrir e fechar de olhos. 
Não escapou um sequer!
Este triste conto nos faz refletir sobre uma nobre lição que todos nós devemos aprender: os malvados necessitam de, constantemente, promover a guerra, hostilizando os adversários brutalmente, para enfraquecer e intimidar, a fim de atingir a desonrosa vitória. Pobres foram as ovelhas que confiam nas palavras dos lobos selvagens, que, por natureza, matam e devoram para sobreviver.

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