O Segredo de Heap House, de Edward Carey


Quando o livro é bom, não importa a quantidade de páginas, sempre terminaremos ele antes do esperado; e foi exatamente isso que aconteceu quando dei inicio ao Segredo de Heap House. De fato, foi uma leitura repleta de surpresas que contribuiu muito para que o interesse pela história se desenvolvesse. Várias especulações e teorias foram criadas em minha mente sobre o desfecho e nenhuma delas chegou perto do que realmente aconteceu.
As características centrais da obra são a originalidade e a particularidade para com os assuntos tratados. Uma mescla de mistérios e insanidades geravam sensações únicas junto às descrições dos personagens e ambientes. Algo jamais imaginado por mim, mas que ganhou forma e contexto graças à escrita envolvente do autor, junto às imagens sombrias que ao início de cada capítulo ilustravam o enredo.


Para explicar o desenvolvimento da história, é necessário entender que o ambiente, por si, é mais importante que os personagens, pelo menos na minha perspectiva. Heap House é um aglomerado de construções londrinas que formam uma espécie de castelo, onde vive a família Iremonger. Esse complexo, que mais parece um labirinto, fica como uma ilha solitária no meio de um mar de objetos e coisas desprezadas que são despejadas e esquecidas por todos os abitantes de Londres — uma espécie de lixão — cujo nome é Cúmulos. E aquele que tenta sair de Heap House pelos Cúmulos, acaba morrendo. Isso porque são quilômetros e mais quilômetros de montanhas de objetos tornando a passagem intransponível. A única forma de se chegar ao aglomerado é pelo trem do subsolo.


Heap House é dividida em duas partes: a visível, onde os Iremongers de sangue puro ficam e são servidos; e o subsolo, que é tão grande quanto ou maior que a parte superior; lá ficam os Iremongers mestiços, que acabam se tornando os serviçais por não seguirem a linhagem pura da família. O livro é narrado na primeira pessoa por dois personagens; o primeiro é Clod Iremonger — protagonista da trama —, sangue puro que vive na parte superior da casa. E o segundo personagem é Lucy Pennant, que chega em Heap House para trabalhar e servir seus superiores.


Toda essa hierarquia mexe com o nosso psicológico pois as diferenças de tratamento são brutais. De um lado temos conforto e satisfações, enquanto do outro, até mesmo a luz do sol é privada. Uma particularidade de todos os abitantes do aglomerado é que cada um deles possui um objeto de nascença, que pode ser qualquer coisa. Há uma ligação muito forte entre tal objeto e o seu portador, que contribui para o desenrolar do mistério durante a leitura. Clod tem a habilidade de ouvir seus respectivos nomes e isso acaba atormentando a vida do rapaz, afinal, somente um louco seria capaz de ouvir objetos.


Por fim, fui surpreendido pela escrita cativante e envolvente de Edward Carey. Algo extremamente original, ao meu ver, que toca o nosso inconsciente e desperta variadas emoções. Um livro para ser lembrado; para ser relido e, enfim, acompanhado. Isso porque trata-se do primeiro título das Crônicas da Família Iremonger que, de certo, continuará com novas histórias e narrativas.

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Nome: O Segredo de Heap House
Editora: Bertrand Brasil
Autor: Edward Carey | Publicação: 2017
Páginas: 384 | Esse livro no Skoob
Sobre: Clod é um Iremonger. Ele vive nos Cúmulos, um vasto mar de itens perdidos e descartados coletados em Londres. No centro dos Cúmulos está Heap House, um quebra-cabeça de casas, castelos, cômodos e mistérios recuperados da cidade e transformados em um labirinto vivo de escadas e criaturas rastejantes. Tudo, porém, começa a mudar quando ele encontra Lucy Pennant, uma órfã rebelde recém-chegada da cidade.

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