A Traição de Tarpéia


Existia uma menina chamada Tarpéia, cujo pai era guarda do portão externo de uma cidadela de Roma. Era tempo de guerra — os sabinos estavam atacando a cidade. Seu acampamento ficava perto da muralha.
Tarpéia costumava ver os soldados sabinos quando ia pegar água no poço público que ficava do lado de fora do portão. Às vezes, ficava por ali e deixava aqueles homens estranhos conversarem com ela, pois gostava de olhar os cintilantes ornamentos de prata. Os soldados usavam pesados anéis e pulseiras de prata no braço esquerdo — alguns usavam até cinco ou seis.
Eles sabiam que se tratava da filha do guardião da cidadela, e observaram que ela cobiçava os ornamentos. Portanto, dia após dia conversavam e mostravam-lhe seus anéis de prata para tentá-la. E Tarpéia acabou fazendo uma troca: trairia sua cidade para eles. Disse que destrancaria o portão e os deixaria entrar caso lhe dessem o que usavam no braço esquerdo.


A noite chegou. Em meio a total escuridão e silêncio, Tarpéia levantou-se da cama, pegou a chave e destrancou, sem fazer barulho, o portão que protegia a cidade. Lá fora, no escuro, as sombrias fileiras se aproximavam silenciosamente e os sabinos entraram na cidadela.
Assim que o primeiro homem entrou, Tarpéia esticou a mão para a frente para receber sua recompensa. O soldado levantou bem alto o braço esquerdo.
— Pega tua recompensa — disse ele e, ao pronunciar estas palavras, jogou-lhe em cima o que estava usando. Sobre a cabeça da menina espatifou-se — não um monte de anéis de prata do soldado, mas sim o grande escudo de bronze que ele carregava na batalha!
Ela desabou no chão.
— Pega tua recompensa — disse o próximo, e o próximo, e o próximo, e o próximo... todos eles carregavam seus escudos no braço esquerdo.
Tarpéia foi enterrada pela recompensa que havia pedido, e os sabinos marcharam sobre o seu cadáver para dentro da cidadela que ela havia traído.

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