O Nariz do Camelo


Há muito tempo me contaram uma história curiosa, em que, numa noite fria, um velho viajante do deserto armou sua tenda para descansar. Quando já estava deitado, seu camelo afastou as abas da entrada e ficou espiando lá dentro
— Meu senhor — disse o animal —, permita-me deixar meu nariz aqui dentro. Está bastante frio! 
Era um pedido estranho já que os camelos suportam muito mais as noites frias do deserto do que os homens. Mas o viajante não viu problema algum.
— Pois bem — bocejou, apático e sonolento depois de um longo dia de caminhada. — Faça como quiser.
Então o animal enfiou o nariz dentro da tenda.
— Se eu pudesse aquecer o pescoço também... — disse.
— Para mim dá no mesmo — respondeu o velho.
O camelo avançou o pescoço e distraiu-se durante um certo tempo olhando em torno. Depois de virar a cabeça para lá e para cá, acabou quebrando o silêncio:
— Só vai ocupar mais um pequeno espaço se eu colocar minhas patas dianteiras para dentro da tenda. Eu me sentiria muito melhor.
O velho deu nos ombros e rolou-se para o lado, assim o animal teria mais espaço para se posicionar.


Mal o camelo plantara as patas dentro da tenda quando observou:
— Oh, meu senhor! Dessa forma a tenda ficará aberta; creio que seja melhor eu entrar por inteiro.
— Como quiser — afastou-se o homem, ainda mais, para dar espaço ao enorme animal.
O camelo, então, entrou entupindo toda a tenda. E logo começou a olhar feio para o velho viajante.
— Estou achando — disse — que não há lugar suficiente para nós dois aqui dentro. É melhor você ir lá para fora, já que é bem menor. Só assim vai ter lugar suficiente para mim.
Dito isso, empurrou o velho com as patas traseiras, jogando-o no frio e na escuridão. 
Com esta fábula podemos perceber que sábia norma é resistir ao mal logo que surgir. Apesar de parecer inofensivo em primeira instância, quando toma espaço e conquista território acaba se rebelando e pondo em prática os seus reais interesses. 

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