Querido Mundo, de Bana Alabed


As histórias sob a perspectiva de uma criança têm sempre uma especialidade quando bem transcorridas. Um encanto à parte do leitor com as palavras que, embora simples, refletem mais sentimentos que muitos títulos elaborados. Independente do gênero ou emoção — riso ou choro —, o olhar da tenra idade infantil sobre a realidade transforma o contexto e nos faz pensar na vida. Esse processo se potencializa ao sabermos que se trata de uma história real, escritas às lágrimas de angústia e sofrimento na esperança de um futuro melhor. Sim, o livro Querido Mundo nos concede a sensibilidade e a empatia para percebermos o sofrimento alheio nos relatos de guerra feitos por uma menina de sete anos e sua busca pela paz.
Segundo J. K. Rowling, trata-se de uma história de amor e coragem em meio à brutalidade e ao horror, onde temos o testemunho de uma criança que suportou o inimaginável. Bana Alabed comoveu o mundo ao utilizar o Twitter como uma ferramenta de súplica à paz. Lá, a menina síria descrevia os horrores que passava junto a sua família, vendo seu país cair em ruínas por conta da guerra e sua história ser manchada pelo sangue de milhares. Aleppo se transformara em um pesadelo aos olhos de sua pequena moradora que, mesmo marcada por árdua experiência, não perdera a capacidade de sonhar por um futuro pacífico.


O papel que Bana desempenhou foi de suma importância, pois além de ter conscientizado os internautas com suas mensagens desoladoras, a menina também representou milhões de crianças inocentes que perderam suas vozes em meio às bombas. E é importante mencionar que por trás de cada criança, existe uma família que deposita suas esperanças no futuro. Uma guerra deixa marcas profundas na estrutura familiar, mas quando se tem união e solicitude, o amor consegue florescer no campo de batalha, comovendo a todos com a beleza de suas flores. Foi o que aconteceu com Bana: presa em Aleppo com pouco acesso a água, comida, medicamentos e outras necessidades básicas, ganhou a atenção do mundo pois o amor falava mais alto.
Seus pais e seus irmãos mais novos face a face com a morte; bombas explodindo constantemente ao seu redor; uma fuga arriscada para a Turquia; o medo enraizado no dia a dia... Tudo isso vivido e experienciado por uma criança. O exemplar toca a essência da solidariedade através da simplicidade de sua escrita e profundidade do tema abordado. Não se trata apenas dos relatos de uma família inocente residindo sob o fogo cruzado, mas de uma crise humanitária que destrói a pátria e a história por trás das pessoas que encaram tal realidade.
Bana Alabed teve perdas irreparáveis e conseguiu compartilhar sua história com mundo, buscando levar esperança àqueles que a perderam. Pois ainda que a pequena menina tenha perdido sua melhor amiga, sua escola e seu lar, a esperança pulsava dentro de si, seja em relação à solução dos problemas que sua família enfrentava ou pelas outras crianças que compartilhavam da mesma dor. No fim, entendemos que vítimas e refugiados de guerra são dignos de vidas melhores.

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