Fábulas e Histórias Diversas, de Monteiro Lobato


É difícil encontrar um brasileiro que nunca tenha ouvido falar de Monteiro Lobato; um dos mais influentes escritores que já existiu em nossas terras. Isso porque possuía um estilo próprio que mesclava a fantasia e a realidade, fazendo com que caminhassem lado a lado em meio às páginas de seus livros. Desse modo, por mais de cem anos, as obras infantis do grande autor fizeram parte da vida de crianças e, ainda hoje, continua despertando-as para a leitura com o intuito de desenvolver o interesse pela rica cultura e o amplo folclore brasileiro.


Sua obra mais famosa é o Sítio do Pica-pau Amarelo, escrita entre o período de 1920 a 1947, possuindo 23 volumes. Todos nós, brasileiros, sabemos que se trata de  um gênero de fantasia que abrange temas históricos onde todo o enredo é composto por aventuras, tendo como característica seus personagens únicos e marcantes. Dona Benta, proprietária das terras, vive com sua neta Lúcia, mais conhecida como Narizinho e a cozinheira Tia Nastácia. Narizinho, por sua vez, possui uma boneca de pano chamada Emília, que começa a falar graças à pílula do Doutor Caramujo que é médico do Reino das Águas Claras — localizado no ribeirão do sítio. Durante o período de férias, outro neto de Dona Benta resolve passar uma temporada no sítio, Pedrinho. E é nesse período que toda a trama se dá.
Essa explicação é fundamental para eu comentar do exemplar, aqui resenhado, que possui uma dose extra de primazia, pois trata-se do último volume publicado no ano de 1947 onde os personagens relatados do parágrafo anterior sentam-se em volta de Dona Benta e a mesma os conta histórias e fábulas escritas por Esopo e La Fontaine, integrando uma antologia mais que especial, isso porque ao final de cada conto, existe comentários e diálogos dos personagens do sítio a respeito dos ensinamentos adquiridos. Muitas vezes são críticas, já outras, elogios, mas todas elas com sua profundidade cultural direcionada às crianças, porém perfeita aos adultos.
Certa raposa esfaimada encontrou uma parreira carregadinha de lindos cachos maduros, coisa de fazer vir água à boca. Mas tão altos que nem pulando. O matreiro bicho torceu o focinho. "Estão verdes", murmurou. "Uvas verdes só para cachorro". E foi-se. Nisto deu o vento e uma folha caiu. A raposa ouvindo o barulhinho voltou depressa e pôs-se a farejar... 
Os que acompanham o Pena Pensante sabem o apreço e o respeito que o blog tem ao abordar contos e fábulas, possuindo uma página especial só para esse assunto. Portanto, para mim, escrever sobre uma edição publicada no ano de 1969, com um estilo único que não se encontra mais para vender nos dias atuais, foi extremamente gratificante. Sei que muito se perdeu dessa cultura e que os olhos do mundo se viraram para outros meios — também importantes —, mas, ao resenhar livros como esse, percebi que a cultura das antigas fábulas se tornou especial pela essência e conteúdo, não pela diversão em si, indo muito além dos prazeres de virar uma velha página.


Para finalizar, é válido ressaltar que todas as histórias diversas presentes no volume foram recontadas com as palavras de Lobato e que a edição comentada nessa publicação não é mais disponível para compra, a não ser em sebos; todavia é possível encontrá-la numa versão mais recente, para isso basta clicar aqui. Fábulas sempre amenizam a severidade do mundo e imensa foi a genialidade do autor quando idealizou o final de sua mais famosa série fazendo uso de um rico acervo literário escrito por dois dos maiores autores que já existiram e fechando com chave de ouro um mundo que estará para sempre na imaginação de todos os brasileiros.

Comentários

  1. Muito bom, sou fã de Monteiro Lobato e adorei o que você escreveu sobre esse último volume da série. Desejo que cada vez mais as crianças de hoje sintam-se interessadas por contos e fábulas pois elas sempre nos ensinam valores para utilizarmos ao longo da vida. Vou compartilhar essa postagem pois achei sensacional. Mais uma vez parabéns e continue publicando conteúdo como este!

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