O Organista, por Filipe Penasso

Molda-se em grandeza aquele que ao longo dos anos se vestiu de sublime encanto nas catedrais de pedra esculpida. Lá se destacava em proeminência o instrumento que invadia o íntimo dos aflitos colhedores de esperança em palavras de alento. Mas nenhuma palavra se comparava ao órgão que dominava o vento, transformando-o em notas musicais ecoadas em seus tubos de metal polido. 

Mágica transmutada em música. Era como se as virtudes cantassem junto às vozes do coro enlaçadas pelos dedos e pés do organista, regendo seus instintos triunfante. Sois tal o dominador da esfinge viva? Enigma aos olhares curiosos que buscam entender como dali pode sair tamanha harmonia. De fato, valeu à história dar-lhe o epiteto de rei dos instrumentos, pois soberano preserva a arte em seu emaranhado de caixas, canos, tubos, teclas, ripas e cordas. 

Obra escultural de onde o organista faz estremecer como uma tempestade as melodias da alma, refletidas pelo respeito, pelo tributo, pela emoção de sentar-se ali até que sua expressividade aconteça em música, encurralada pela euforia assustadora e comprometida com uma paixão ardente em violentos tremores melancólicos. 

Sim, organista! No meio do som seu coração se faz em alegria, sua alma voa livre e sua vida tem sentido, pois domina o instrumento por excelência; encontrou-se na noite do tempo como um cavaleiro enfeitiçado pela quimera mitológica. E o órgão segue imponente de índole sacra, quebrando as barreiras do tempo e repousando nas catedrais, até que surja de novo um desbravador disposto a desvendar seus mistérios.

Texto originalmente publicado no Penasso Cronista.

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