Sumidouro: Um Lugar de Encanto e Magia (Primeira Parte)


Sempre me atraí pela magia dos lugares. Por sua excentricidade; originalidade; singularidade; efeito de estontear; maravilhar; emocionar e, é claro, pela forma com que o cenário ilustra minha imaginação, fazendo-me delinear histórias pelo ambiente, como se o passado voltasse à tona no espaço circundante para se mostrar vivo à minha frente. Trabalho criativo para quem enxerga além do que vê. Afinal de contas, todos os lugares carregam consigo uma história oculta, um passado remoto, uma magia avassaladora e um enigma a ser decifrado. 

Poderia estar traçando rotas e compartilhando facilidades do entorno — dando dicas para um passeio confortável e lugares onde se pode comprar uma boa refeição. Mas isso todos os guias turísticos já fazem. Não quero ser mais uma numa multidão. Escrevo para ávidos leitores, amantes da literatura e aventureiros de textos perdidos, e assim como ponho sentimentos nas resenhas literárias que teço frequentemente, também pretendo trazer emoção às viagens que compartilharei em parágrafos. Não se trata de uma ficha catalográfica de valores e mapas, mas de uma narrativa lírica quase poética do que vi e senti nos lugares por onde andei. 

Recordo-me de ter sido em uma manhã de inverno a primeira vez que ouvi falar na pequena cidade de Sumidouro no interior do Rio de Janeiro. Seu nome peculiar me chamou atenção logo no primeiro instante. Como que uma cidade pode ter este nome? Logo imaginei um rio de águas turbulentas serpeando suas terras e desaparecendo em meio às pedras. De fato, estava certo. Assim que iniciei minha pesquisa vi o porquê do nome. São as águas do Rio Paquequer que desaparecem abruptamente em certo ponto do percurso, passando a ser, no trecho em questão, um rio subterrâneo para, então, voltar à superfície.


Tal rio já foi muito explorado na literatura. Vagando por entre as páginas de velhos sites tomei conhecimento de um ditado, mais popular pelas bandas de Teresópolis, que traz à tona o Paquequer de poetas — inspirando palavras à arte. Nunca me esqueci de seus versos. 

“De um dos cabeços da Serra dos Órgãos 
desliza um fio de água que se dirige para 
o norte, e engrossando com os mananciais, 
que recebe no seu curso de dez léguas, torna-se rio caudal. 

“É o Paquequer : saltando de cascata em cascata, 
enroscando-se como uma serpente, vai depois se 
espreguiçar na várzea e embeber no Paraíba, 
que rola majestosamente em seu leito vasto." 

Fiquei encantado com tamanha expressividade, ainda que não fizesse ideia do nome do poeta de palavras incisivas. Enfim, o desejo de conhecer a cidade nasceu em meu peito e, a partir daí, comecei a pesquisar os pontos que poderiam ser do meu interesse para, então, organizar uma futura viagem. Para minha surpresa, encontrei três: Pedra Duas Irmãs, Cascata do Conde D’Eu e Ponte Seca. Todos repletos de história. 


Acabava de tomar conhecimento de Sumidouro, uma cidade cuja beleza me encantara. Tenho certeza de que não foi por acaso que a encontrei. Seus encantos me passaram uma mensagem oculta grafada no meu subconsciente. Por isso iniciei este artigo falando da magia dos lugares. Sumidouro é repleto de magia. Seu clima, suas árvores, pedras e águas do Paquequer enlaçam algo maior; algo que todos os desbravadores literários buscam nas páginas dos exemplares: historicidade. Fui capaz de encontrá-la andando pelas ruas da pequena cidade da região serrana do Rio de Janeiro. Saí dos exemplares e fui ao encontro do que me fascinara. Precisava ver com meus próprios olhos. 

Apenas hoje, três meses após a minha viagem para Sumidouro, consegui transformar minhas experiências em texto. Cheio de sentimento, aventura e surpresas. O artigo está divido em quatro partes, sendo esta a primeira. Resume-se ao desejo de sair das páginas, das fotos e dos vídeos para ir ao encontro do físico e do real. Eu estive lá e presenciei tamanha beleza.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A História de Caronte: O Barqueiro dos Mortos

Mobilismo e Monismo

O Segredo de Cura dos Índios

A Livraria, de Penelope Fitzgerald