A Volta ao Mundo em 80 dias, de Júlio Verne

De acordo com a etimologia da palavra aventura, do latim "ad venture", diz respeito, literalmente, àquilo que vem pela frente. Ou seja, encarar uma aventura significa estar preparado para o que vier; seja uma circunstância ou um lance acidental inesperado, sempre despertará emoções à flor da pele, fazendo dos aventureiros descobridores de si mesmos quando encontram em seu entorno o que não encontrariam em seu cotidiano. De tal modo, a aventura está diretamente ligada à quebra do habitual, partindo do ordinário e indo ao encontro do extraordinário.

Esse conceito delineia perfeitamente a obra de Júlio Verne, A Volta ao Mundo em 80 Dias, nos moldes da narrativa fantástica. O escritor francês, tido como precursor da moderna ficção científica, teve como grandes expedições aventureiras os principais temas de seus livros, fazendo com maestria o que ninguém havia feito até então. A obra vanguardista aqui comentada não envereda-se tanto fora da realidade, como outros títulos do autor, embora ainda seja um livro ficcional. 

Verne nos apresenta a discussão sobre as mudanças do mundo e a percepção de tamanho que o enlaçava no auge do século XIX, com gigantescas e inovadoras ferrovias cortando os continentes e grandes navios a vapor atravessando os mares. De fato, o planeta se tornava menor como nunca havia se tornado, fazendo um metódico inglês selar uma aposta em alta quantia numa mesa de clube, afirmando ser capaz de dar a volta ao mundo em míseros 80 dias.  O ano era o de 1872 quando Phileas Fogg e seu fiel escudeiro, Jean Passepartout, colocam o pé no mundo, encarando as incontáveis aventuras que apenas a imaginação excêntrica do autor poderia narrar.

Trata-se de uma viagem completa, com encontros e desencontros, alegrias e infelicidades; tudo conectado pelos passos do apostador que seguia como pioneiro de seu tempo. Desde viagens sobre um elefante indiano até o percurso traçado por um trenó sobre a neve são postos às páginas do livro. Todos os meios de transporte existentes naquela época foram utilizados, cada qual com seu contratempo e cenário, fazendo despertar nos leitores grandes aflições em vista da aposta selada. De fato, o exemplar traz à tona emoções pertinentes, pois quando embarcamos na leitura, também fazemos parte do itinerário aventureiro que leva Phileas Fogg a dar a volta ao mundo.

Não se trata de um livro previsível. Existem surpresas a cada página, fazendo com que os assíduos leitores suspirem de ansiedade. Por isso é possível terminar sua leitura em pouco tempo, já que o desejo por saber se o protagonista, de fato, realizará o feito fala mais alto do que qualquer outra peripécia. Na minha opinião, todos tinham que conhecer ao menos um pouco da escrita de Verne, autor que conseguiu perpetuar-se nas palavras e no modo com que as conduzia.

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