O Filósofo de Cítia.
Certo filósofo, filho da rude Cítia, quis levar uma vida mais suave e viajou para a Grécia. Lá, encontrou um sábio muito parecido com aquele de quem Virgílio nos faz relato; varão que se iguala aos reis, assemelha-se a deuses e que, como esses, vive tranquilo e satisfeito.
A felicidade do sábio estava na formosura de seu pomar. O filósofo encontrou-o de podadeira na mão, podando os ramos inúteis de suas árvores, que a natureza prodigamente fazia crescer em retribuição de seu trabalho. Perguntou-lhe o viajante, então, por que mutilava daquela maneira as árvores e se era justo tal procedimento.
– Caso eu deixe apenas a natureza operar nessas terras, logo essas árvores fenecerão. Não corto senão o supérfluo. Podando-se dessa forma, meu pomar prospera muito mais.
Ao voltar o filósofo a seu país, pegou por sua vez uma podadeira e utilizou-a à direita e à esquerda, aconselhando a seus amigos uma poda universal. Cortou das árvores seus galhos mais úteis, colheu e plantou em sua horta fora de tempo e de estação e o resultado foi que tudo morreu.
Pode-se comparar o viajante com o estoico indiscreto. Este arranca da alma desejos e paixões, sejam maus ou bons, e até mesmo extirpa as mais inocentes inclinações.
Por minha parte, sou contra esses maus filósofos. Tiram de nosso coração as coisas principais e nos arrancam a vida antes da morte.
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